O TREINADOR MCCONAUGHTY FICOU DE PÉ NO QUADRO-NEGRO falando com monotonia sem parar sobre algo, mas a minha mente estava distante das complexidades da ciência.
Eu estava ocupada formulando razões para o porque Patch e eu não deveríamos mais ser parceiros, fazendo uma lista delas atrás de um teste velho. Assim que a aula acabasse, eu apresentaria meus argumentos para o Treinador. Não coopera em tarefas, eu escrevi. Mostra pouco interesse em trabalhos de equipe.
Mas eram as coisas que não estavam listadas que me incomodavam. Eu achava a localização da marca de nascença de Patch estranha, e eu fiquei assustada com o acidente na minha janela na noite passada. Eu não suspeitei de imediato de Patch me espionando, mas eu não conseguia ignorar a coincidência de que eu tinha quase certeza de ter visto alguém olhando na minha janela só horas depois de tê-lo conhecido.
Ao pensar em Patch me espionando, eu alcancei o compartimento dianteiro da minha mochila e chacoalhei duas pílulas de ferro de uma garrafa, engolindo-as inteiro. Elas prenderam na minha garganta por um instante, então acharam seu caminho na descida.
De canto de olho, eu capturei as sobrancelhas erguidas de Patch.
Eu considerei explicar que eu era anêmica e que tinha que tomar ferro algumas vezes por dia, especialmente quando estava estressada, mas eu pensei melhor. A anemia não era uma questão de vida ou morte... contanto que eu tomasse doses regulares de ferro. Eu não era paranóica ao ponto de pensar que Patch queria me ferir, mas de algum modo, minha condição médica era uma vulnerabilidade que parecia melhor guardada em segredo.
“Nora?”
O Treinador ficou de pé na frente da sala, sua mão esticada em um gesto que mostrava que ele estava esperando por uma coisa – minha resposta. Uma queimação vagarosa achou seu caminho até as minhas bochechas.
“Você poderia repetir a pergunta?” eu perguntei.
A sala deu risinhos.
O Treinador disse, com uma leve irritação, “Quais as qualidade que te atraem em um parceiro em potencial?”
“Parceiro em potencial?”
“Vamos lá, não temos a tarde toda.”
Eu conseguia ouvir a Vee rindo atrás de mim.
Minha garganta pareceu se contrair. “Você quer que eu liste características de um...?”
“Parceiro em potencial, sim, isso seria prestativo.”
Sem querer fazê-lo, eu olhei de lado para Patch. Ele estava relaxado em seu assento, quase preguiçosamente, estudando-me com satisfação. Ele deu um relampejo de seu sorriso de pirata e balbuciou, Estamos esperando.
Eu empilhei minhas mãos na mesa, esperando parecer mais contida do que eu me sentia. “Eu nunca pensei nisso antes.”
“Bem, pense rápido.”
“Você poderia chamar outra pessoa primeiro?”
O Treinador gesticulou impacientemente para a minha esquerda. “É com você, Patch.”
Ao contrário de mim, Patch falou com confiança. Ele se posicionou para que seu corpo ficasse virado ligeiramente na direção do meu, nossos joelhos a meros centímetros de distância.
“Inteligente. Atraente. Vulnerável.”
O Treinador estava ocupado listando os adjetivos no quadro. “Vulnerável?” ele perguntou. “Como assim?”
Vee falou. “Isso tem alguma coisa a ver com a unidade que estamos estudando? Porque eu não consigo achar nada sobre características desejadas em um parceiro em lugar alguma do nosso texto.”
O Treinador parou de escrever tempo o bastante para olhar sobre seu ombro. “Todos os animais no planeta atraem parceiros com o objetivo de reproduzir. Sapos incham seus corpos. Gorilas machos batem em seus peitos. Você já observou uma lagosta macho subir nas pontas dos pés e estalar suas garras, exigindo a atenção da fêmea? Atração é o primeiro elemento de toda a reprodução animal, incluindo os humanos. Por que não nos dá a sua lista, Srta. Sky?”
Vee levantou cinco dedos. “Lindo, rico, indulgente, ferozmente protetor, e só um pouquinho perigoso.” Um dedo descia com cada descrição.
Patch riu baixinho. “O problema com a atração humana é não saber se ela será retornada.”
“Excelente argumento,” o Treinador disse.
“Humanos são vulneráveis,” Patch continuou, “porque são capazes de se magoar.” Com isso o joelho de Patch bateu contra o meu. Eu me afastei, não ousando me deixar perguntar o que ele queria dizer com o gesto.
O Treinador acenou. “A complexidade da atração humana – e da reprodução – é uma das características que nos diferenciam das outras espécies.”
Eu pensei ter ouvido Patch bufar com isso, mas foi um som muito suave, e eu não consegui ter certeza.
O Treinador continuou, “Desde o começo dos tempos as mulheres se atraíram por parceiros com habilidades de sobrevivência fortes – como inteligência e proeza física – porque homens com essas qualidades tem mais chances de trazer a janta para casa no final do dia.” Ele levantou dois dedões no ar e sorriu. “Janta equivale a sobrevivência, time.”
Ninguém riu.
“Igualmente,” ele continuou, “os homens são atraídos pela beleza porque indica saúde e juventude – não há razão para se acasalar com uma mulher doente que não estará por perto para criar as crianças.” O Treinador empurrou seu óculos até a ponte do nariz e deu risada.
“Isso é tão sexista,” Vee protestou. “Me conte alguma coisa que se relacione a uma mulher no século vinte e um.”
“Se você abordar a reprodução aos olhos da ciência, Senhoria Sky, você verá que as crianças são a chave para a sobrevivência da nossa espécie. E quanto mais filhos você tem, maior a sua contribuição para o patrimônio genético.”
Eu praticamente escutei os olhos da Vee girando. “Eu acho que finalmente estamos chegando perto do tópico de hoje. Sexo.”
“Quase,” disse o Treinador, levantando um dedo. “Antes do sexo vem a atração, mas depois da atração vem a linguagem corporal. Você tem que comunicar ‘Estou interessado’ para um parceiro em potencial, só que não em tantas palavras.”
O Treinador apontou para o meu lado. “Certo, Patch. Digamos que você está numa festa. A sala está cheia de meninas de todas as formas e tamanhos diferentes. Você vê loiras, morenas, ruivas, algumas meninas de cabelo preto. Algumas são extrovertidas, enquanto outras aparentam ser tímidas. Você achou uma garota que encaixe no seu perfil – atraente, inteligente, e vulnerável. Como você a deixa saber que está interessado?”
“Escolho-a. Falo com ela.”
“Bom. Agora para a pergunta principal – como você sabe se ela está na sua ou se ela quer que você continue andando?”
“Eu a estudo,” Patch diz. “Eu descubro o que ela está pensando e sentindo. Ela não vai vir de supetão e me contar, e é por isso que eu tenho de prestar atenção. Ela vira seu corpo em direção ao meu? Ela olha nos meus olhos, então
desvia o olhar? Ela morde seu lábio e brinca com seu cabelo, como a Nora está fazendo agora?”
Risadas cresceram na sala. Eu derrubei minhas mãos em meu colo.
“Ela está na minha,” disse Patch, batendo na minha perna novamente. De todas as coisas, eu corei.
“Muito bem! Muito bem!” o Treinador disse, sua voz carregada, sorrindo amplamente para a nossa atenção.
“As veias de sangue no rosto da Nora estão se alargando e a pele dela está esquentando,” Patch disse. “Ela sabe que está sendo avaliada. Ela gosta da atenção, mas ela não tem certeza de como lidar com isso.”
“Eu não estou corando.”
“Ela está nervosa,” Patch disse. “Ela está acariciando seu braço para tirar a atenção de seu rosto para seu corpo, ou talvez para a pele dela. Ambos são pontos vencedores fortes.”
Eu quase engasguei. Ele está brincando, eu disse a mim mesma. Não, ele é insano. Eu não tenho experiência em lidar com lunáticos, e aparecia. Eu sentia que eu passava a maior parte do nosso tempo juntos encarando Patch, de boca aberta. Se eu tinha qualquer ilusão sobre ficar no mesmo nível dele, eu ia ter que bolar uma nova abordagem.
Eu coloquei minhas mãos contra a mesa, levantei meu queixo, e tentei parecer como se eu ainda possuísse alguma dignidade. “Isso é ridículo.”
Esticando seu braço ao seu lado com uma dissimulação exagerada, Patch o pendurou nas costas da minha cadeira. Eu tinha o estranho pressentimento que isso era uma ameaça mirada diretamente a mim, e que ele estava alheio e indiferente de como a turma recebia isso. Eles riam, mas ele não parecia ouvir, segurando os meus olhos tão unicamente com os seus próprios que eu quase acreditava que ele tinha esculpido um mundo pequeno e privado para nós que ninguém mais podia alcançar.
Vulnerável, ele balbuciou.
Eu travei meus tornozelos ao redor das pernas da minha cadeira e dei um solavanco para frente, sentindo o peso do braço dele cair das costas do assento. Eu não era vulnerável.
“E aí está!” o Treinador disse. “Biologia em ação.”
“Podemos por favor falar sobre sexo agora?” perguntou Vee.
“Amanhã. Leiam o capítulo sete e estejam prontos para uma discussão imediata.”
O sinal tocou, e Patch rangeu sua cadeira. “Isso foi divertido. Vamos fazer de novo algum dia.” Antes que eu pudesse bolar algo mais incisivo do que não, obrigada, ele se debruçou atrás de mim e desapareceu para fora da porta.
“Eu vou começar uma petição para despedirem o Treinador,” Vee disse, vindo até a minha mesa. “O que foi a aula hoje? Foi um pornô aguado. Ele praticamente colocou você e Patch em cima da sua mesa, na horizontal, sem suas roupas, fazendo A Coisa –”
Eu a focalizei com um olhar que dizia, Parece que eu quero uma repetição?
“Noossa,” Vee disse, recuando.
“Eu preciso falar com o Treinador. Te encontro no armário em dez minutos.”
“Sem dúvida.”
Eu caminhei até a mesa do Treinador, onde ele estava sentado encurvado sobre um livro de jogadas de basquete. Ao primeiro olhar, todos os Xs e Os faziam parecer que ele estava jogando jogo da velha.
“Oi, Nora,” ele disse em olhar para cima. “O que posso fazer por você?”
“Estou aqui para te dizer que seu novo mapa de assento e plano de aula está me deixando desconfortável.”
O Treinador relaxou em sua cadeira e dobrou suas mãos atrás de sua cabeça. “Eu gosto do mapa de assentos. Quase tanto quanto eu gosto desse jogo de homem-a-homem em que estou trabalhando para o jogo de sábado.”
Eu coloco uma cópia do código de conduta e direitos estudantis da escola bem no topo dele. “Por lei, nenhum estudante deveria se sentir ameaçado nas propriedades escolares.”
“Você se sente ameaçada?”
“Eu me sinto desconfortável. E eu gostaria de propor uma solução.” Quando o Treinador não me cortou, eu inspirei um sopro de confiança. “Eu monitorarei qualquer estudante das suas aulas de biologia – se você me sentar ao lado da Vee novamente.”
“Patch podia ser monitorado.”
Eu resisti cerrar meus dentes. “Isso acaba com o propósito.”
“Você o viu hoje? Ele estava envolvido na discussão. Eu não o ouvi dizer uma palavra o ano todo, mas eu coloco ele ao seu lado e – bingo. A nota dele aqui vai melhorar.”
“E a da Vee vai cair.”
“Isso acontece quando você não pode olhar pro lado pra pegar a resposta certa,” ele disse secamente.
“O problema da Vee é falta de dedicação. Eu monitorarei ela.”
“Nada feito.” Olhando para seu relógio, ele disse, “Estou atrasado para uma reunião. Acabamos aqui?”
Eu fiquei parada com a minha boca entreaberta, espremendo o meu cérebro para cuspir mais um argumento. Mas parecia que eu estava sem inspiração.
“Vamos dar ao mapa de assento mais algumas semanas. Ah, e eu falei sério sobre monitorar Patch. Vou considerar você dentro.” O Treinador não esperou pela minha resposta; ele assobiou a música tema de Jeopardy e mergulhou para fora da porta.
Às sete horas o céu tinha escurecido para um azul enegrecido, e eu fechei meu casaco para me aquecer. Vee e eu estávamos a caminho do cinema para o estacionamento, tendo acabado de assistir O Sacrifício.
Era meu trabalho resenhar filmes para o eZine, e já que eu já tinha visto todos os outros filmes passando no cinema, tínhamos nos resignado ao último suspense urbano.
“Esse,” Vee disse, “foi o filme mais bizarro que eu já vi. Como regra, não temos mais permissão de ver nada que sugira horror.
Por mim tudo bem. Levando em consideração que alguém estivera espreitando do lado de fora da janela do meu quarto na noite passada e combinando isso com um filme totalmente desenvolvido sobre um perseguidor essa noite, e eu estava começando a me sentir um tantinho paranóica.
“Consegue imaginar?” Vee disse. “Viver sua vida toda não tendo uma pista de que a única razão para que você é mantida viva é para ser usada como um sacrifício?”
Ambas estremecemos.
“E qual era a daquele altar?” ela continuou, irritantemente alheia que eu teria preferido falar sobre o círculo da vida de um fungo do que sobre o filme. “Por que aquele cara mau tocou fogo na pedra antes de amarrá-la? Quando eu escutei a carne dela chiar –”
“Está certo!” Eu praticamente gritei. “Para onde agora?”
“E posso só dizer que se um cara alguma vez me beijar desse jeito, eu vou começar a vomitar. Repulsivo não consegue descrever o que acontecia com a boca dele. Aquilo era maquiagem, certo? Quero dizer, ninguém realmente tem uma boca como aquela na vida real –”
“Minha resenha é para a meia-noite,” eu disse, cortando-a.
“Ah. Certo. Para a biblioteca, então?” Vee destrancou as portas de seu Dodge Neon roxo 1995. “Você está sendo terrivelmente sensível, sabe.”
Eu deslizei para o assento do passageiro. “Culpa do filme.” Culpa do pervertido na minha janela ontem a noite.
“Não estou falando só sobre hoje a noite. Eu notei,” ela disse com uma travessa curva de sua boca, “que você ficou excepcionalmente mal-humorada por uma boa meia hora no final da aula de biologia nos últimos dois dias.”
“Fácil também. Culpe o Patch.”
Os olhos da Vee moveram-se rapidamente para o espelho retrovisor. Ela o ajustou para olhar melhor seus dentes. Ela os lambeu, dando um sorriso praticado.
“Eu tenho que admitir, o lado obscuro dele me atrai.”
Eu não tinha desejo algum de admitir isso, mas Vee não estava sozinha. Eu me sentia atraída por Patch de uma maneira que eu nunca me senti atraída por ninguém. Havia um magnetismo obscuro entre nós. Perto dele, eu me sentia atraída pelos precipícios do perigo. A qualquer momento, parecia que ele podia me empurrar do precipício.
“Ouvir você dizer isso me fazer querer –” eu parei, tentando pensar exatamente no que a nossa atração pelo Patch me fazia querer fazer. Algo desagradável.
“Me diga que você não acha que ele é bonito,” Vee disse, “e eu prometo que nunca trarei o nome dele a tona novamente.”
Eu estiquei meu braço para ligar o rádio. De tudo, devia haver algo melhor a fazer do que arruinar a nossa noite convidando Patch, mesmo que de forma abstrata, para ela. Sentar ao lado dele por uma hora todo dia, cinco dias por semana, era muito mais do que eu podia aguentar. Eu não lhe daria minhas noites também.
“Bem?” Vee pressionou.
“Ele pode ser bonito. Mas eu seria a última a saber. Eu sou uma jurada maculada nessa questão, desculpa.”
“O que isso quer dizer?”
“Quer dizer que eu não consigo passar pela personalidade dele. Nenhuma quantidade de beleza pode compensá-la.”
“Beleza não. Ele é... ousado. Sexy.”
Eu girei meus olhos.
Vee buzinou e bateu em seu freio enquanto um carro parava na frente dela.
“O quê? Você discorda, ou rude-e-diabólico não é o seu tipo?”
“Eu não tenho um tipo,” eu disse. “Não sou tão restrita.”
Vee riu. “Você, querida, é mais do que restrita – você é confinada. Limitada. Seu espectro é tão largo quanto um dos micro-organismos do Treinador. Há muitos poucos, se há algum, garotos na escola por quem você ficaria caída.”
“Isso não é verdade.” Eu disse as palavras automaticamente. Não foi até eu tê-las dito que eu me perguntei o quanto eram acuradas. Eu nunca estive seriamente interessada em ninguém. Como eu era estranha. “Não tem a ver com garotos, tem a ver com... amor. Eu não o achei.”
“Não tem a ver com amor,” Vee disse. “Tem a ver com diversão.”
Eu levantei minhas sobrancelhas, duvidosa. “Beijar um cara que eu não conheço – que eu não gosto – é divertido?”
“Você não esteve prestando atenção na aula de biologia? É muito mais do que beijar.”
“Ah,” eu disse em uma voz iluminada. “O patrimônio genético está deturpado o bastante sem eu contribuir com ele.”
“Quer saber quem eu acho que seria realmente bom?”
“Bom?”
“Bom?” ela repetiu com um sorriso indecente.
“Não particularmente.”
“O seu parceiro.”
“Não chame ele disso,” eu disse. “Parceiro tem uma conotação positiva.”
Vee espremeu-se em uma vaga próxima das portas da biblioteca e deixou o motor morrer. “Você já fantasiou sobre beijá-lo? Você já deu uma espiadinha de lado e imaginou se jogar no Patch e comprimir sua boca contra a dele?”
Eu encarei ela com um olhar que esperava transmitir um choque alarmado. “Você já deu?”
Vee sorriu.
Eu tentei imaginar o que Patch faria se fosse apresentado a essa informação. Do pouco que eu sabia sobre ele, eu sentia sua aversão pela Vee como se fosse concreta o bastante para tocar.
“Ele não é bom o bastante para você,” eu disse.
Ela gemeu. “Cuidado, você só vai fazer eu querer ele ainda mais.”
Dentro da biblioteca nós pegamos uma mesa no térreo, perto de ficção adulta. Eu abri meu laptop e digitei: O Sacrifício, duas estrelas e meia. Duas e meia provavelmente era baixo. Mas eu tinha muito na minha mente e não estava me sentindo particularmente justa.
Vee abriu um saco de chips de maça seca. “Quer um pouco?”
“Não, obrigada.”
Ela espiou dentro do saco. “Se você não vai comê-las, eu terei que. E eu realmente não quero.”
Vee estava na dieta da fruta roleta-da-cor. Três frutas vermelhas por dia, duas azuis, um punhado de verdes...
Ela levantou um chip de maça, examinando-o de frente e de costas.
“Que cor?” eu perguntei.
“Verde-maça-de-fazer-vomitar-ovas-de-peixe. Eu acho.”
Bem então Marcie Millar, a única estudante do segundo ano do time de líderes de torcida na história da Coldwater High, tomou um assento na beirada de nossa mesa. Seu cabelo loiro morango estava penteado em marias-chiquinhas baixas, e como sempre, sua pele estava oculta debaixo de meio tubo de base. Eu estava positivamente certa de que tinha acertado a quantidade certa, já que não havia um traço de suas sardas a vista. Eu não via as sardas da Marcie desde a sétima série, o mesmo ano em que ela descobriu Mary Kay9. Havia três quartos de dois centímetros entre a bainha de sua saia e o começo de sua calcinha... se ela estava ao menos usando uma.
9 Empresa americana de venda direta de cosméticos, fundada em 1963 em Dallas, Texas (EUA), por Mary Kay Ash.
10 Cadeia de lojas de departamento dos EUA.
11 Laxante em forma e com gosto de chocolate.
“Oi, Gigante,” Marcie disse para Vee.
“Oi, Aberração,” Vee disse de volta.
“Minha mãe está procurando por modelos esse final de semana. O pagamento é nove dólares por hora. Pensei que você poderia estar interessada.”
A mãe da Marcie gerencia a JCPenney10 local, e nos finais de semana ela faz a Marcie e o resto das líderes de torcida modelaram em biquínis na janela de exposição encarando a rua da loja.
“Ela está tendo muita dificuldade em achar modelos de lingerie plus-size,” disse Marcie.
“Você tem comida presa nos seus dentes,” Vee disse a Marcie. “Na fenda entre os seus dois dentes da frente. Parece com o chocolate Ex-Lax11...”
Marcie lambeu seus dentes e deslizou da mesa. Enquanto ela ia embora gingando, Vee enfiou seu dedo em sua boca e fez gestos de vômito para as costas da Marcie. “Ela tem sorte de estarmos na biblioteca,” Vee me disse. “Ela tem sorte de não termos nos cruzado em um beco escuro. Última chance – quer chips?”
“Passo.”
Vee vagou para descartar os chips. Alguns minutos depois ela retornou com um livro de romance. Ela tomou o assento ao meu lado e, mostrando a capa do livro, disse, “Algum dia seremos nós. Arrebatadas por caubóis parcialmente vestidos. Eu me pergunto como é beijar um par de lábios queimados pelo sol e com crostas de lama?”
“Sujo,” eu murmurei, digitando.
“Falando em sujo.” Houve um aumento inesperado em sua voz. “Lá está o nosso menino.”
Eu parei de digitar tempo o bastante para espiar sobre meu laptop, e meu coração pulou uma batida. Patch estava de pé do outro lado da sala na fila de empréstimo. Como se ele tivesse me sentido observando-o, ele se virou. Nossos olhos se trancaram por um, dois, três instantes. Eu quebrei-o primeiro, mas não antes de receber um sorriso vagaroso.
As batidas do meu coração ficaram erráticas, e eu disse a mim mesma para me controlar. Eu não ia ir por essa estrada. Não com o Patch. Não a não ser que eu estivesse louca.
“Vamos,” eu disse a Vee. Fechando meu laptop, eu o fechei dentro de sua pasta. Eu empurrei meus livros dentro da minha mochila, derrubando alguns no chão enquanto o fazia.
Vee disse, “Estou tentando ler o título que ele está segurando... espera aí… Como Ser um Perseguidor.”
“Ele não está emprestando um livro com esse título.” Mas eu não estava certa.
“É ou esse ou Como Irradiar Sensualidade Sem Tentar.”
“Shh!” Eu sibilei.
“Acalme-se, ele não consegue ouvir. Ele está falando com a bibliotecária. Ele está indo embora.”
Confirmando isso com uma rápida olhada, eu percebi que se fôssemos embora agora, provavelmente o encontraríamos na porta de saída. E então seria esperado que eu dissesse algo para ele. Eu me ordenei a voltar para a minha cadeira e procurei diligentemente nos meus bolsos por coisa alguma enquanto ele terminava de sair.
“Você acha que é sinistro ele estar aqui na mesma hora que nós?” Vee perguntou.
“Você acha?”
“Eu acho que ele está te seguindo.”
“Eu acho que é uma coincidência.” Isso não era inteiramente verdade. Se eu tivesse que fazer uma lista dos dez lugares em que eu esperaria encontrar Patch
em qualquer noite, a biblioteca pública não entraria. A biblioteca não entraria nos cem lugares. Então o que ele estava fazendo aqui?
A pergunta era particularmente perturbadora depois do que acontecera ontem a noite. Eu não tinha mencionado isso para Vee porque eu esperava que isso encolhesse e murchasse na minha memória até parasse de ter acontecido. Ponto.
“Patch!” Vee fingiu sussurrar. “Você está perseguindo a Nora?”
Eu fixei minha mão sobre a boca dela. “Para com isso. Falo sério.” Eu fiz uma cara severa.
“Aposto que ele está te seguindo,” disse Vee, forçando a minha mão a sair. “Eu aposto que ele tem um histórico disso também. Eu aposto que ele tem medidas cautelares. Deveríamos entrar escondidas no escritório principal. Tudo deve estar na ficha estudantil dele.”
“Não vamos entrar escondidas no escritório principal.”
“Eu podia criar uma distração. Sou boa em distrações. Ninguém veria você entrar. Poderíamos ser como espiãs.”
“Não somos espiãs.”
“Sabe o sobrenome dele?” Vee perguntou.
“Não.”
“Sabe alguma coisa sobre ele?”
“Não. E eu gostaria de continuar desse jeito.”
“Ah, vamos lá. Você ama um bom mistério, e não fica melhor que isso.”
“Os melhores mistérios envolvem um corpo morto. Não temos um corpo morto.”
Vee deu um gritinho. “Ainda não!”
Chacoalhando duas pílulas de ferro da garrafa na minha mochila, eu as engoli juntas.
Vee fez o Neon saltar em sua entrada logo depois das nove e meia. Ela desligou o motor e balançou as chave na minha frente.
“Você não vai me levar para casa?” eu perguntei. Um desperdício de fôlego, já que eu sabia a resposta dela.
“Tem névoa.”
“Uma névoa remendada12.”
12 No original, ‘patchy’, que significa remendo e é um trocadilho com o nome do Patch.
Vee sorriu. “Ah, cara. Ele está tão na sua mente. Não que eu te culpe. Pessoalmente, estou esperando sonhar com ele hoje a noite.”
Argh.
“E a névoa sempre piora perto da sua casa,” Vee continuou.
“Me assusta depois de escuro.”
Eu agarrei as chaves. “Muito obrigada.”
“Não me culpe. Diga a sua mãe para se mudar mais pra perto. Diga a ela que tem esse clube novo chamado civilização e que vocês deveriam se juntar.”
“Suponho que espera que eu te pegue antes da escola amanhã?”
“As sete e meia seria bom. Café da manhã por minha conta.”
“É melhor que seja bom.”
“Seja boazinha com o meu bebê.” Ela deu um tapinha no para-lama do Neon. “Mas não boazinha demais. Não posso fazê-la pensar que tem melhor aí fora.”
Na viagem para casa eu permiti que meus pensamentos fizessem uma pequena viagem para Patch.
Vee estava certa – algo sobre ele era incrivelmente sedutor. E incrivelmente sinistro. Quanto mais eu pensava sobre isso, mais eu estava convencida de que algo nele era... estranho. O fato dele gostar de me antagonizar não era exatamente digno de notícia, mas havia uma diferença entre me irritar durante a aula e possivelmente me seguir até a biblioteca para conseguir isso. Não são muitas as pessoas que se dariam a tanto trabalho... a não ser que tivessem uma boa razão.
Na metade do caminho para casa uma chuva incitou nuvens finas a cobrirem a estrada. Dividir minha atenção entre a estrada e os controles no volante, eu tentei localizar os limpadores.
As luzes da rua relinchavam acima e eu me perguntei se uma tempestade mais forte estava se aproximando. Tão perto assim do oceano o clima mudava constantemente, e uma pancada de chuva podia rapidamente se transformar em uma inundação.
Eu acelerei o Neon.
As luzes do lado de fora piscaram novamente. Um pressentimento gelado espetou a parte de trás do meu pescoço, e os pelos nos meus braços formigaram. Meu sexto sentido passou para um alerta máximo. Eu me perguntei se eu achava que estava sendo seguida. Não havia faróis no espelho retrovisor.
Nada de carros a frente, tampouco. Eu estava completamente sozinha. Não era um pensamento muito confortante. Eu acelerei o carro para setenta quilômetros.
Eu achei o limpador, mas mesmo na velocidade máxima eles não conseguiam manter o ritmo da chuva martelante. O sinaleiro a frente ficou amarelo.
Eu parei, chequei para ver se o tráfego estava vazio, então fui para a cruzamento.
Eu escutei o impacto antes de registrar a silhueta negra derrapando pelo capô do carro.
Eu gritei e pisei fundo no freio. A silhueta golpeou contra o para-brisa com uma explosão estilhaçante.
Em impulso, eu virei duramente o volante para a direita. O final do Neon desacelerou, mandando-me girando no cruzamento. A silhueta rolou e desapareceu pela beirada do capô.
Eu estava segurando minha respiração, apertando o volante entre minhas mãos de dobras brancas. Eu levantei meu pé dos pedais. O carro moveu-se rapidamente e parou.
Ele estava agachado a alguns metros, me observando. Ele não parecia nem um pouco... ferido.
Ele estava vestido totalmente de preto e misturava-se a noite, dificutando dizer como ele era. De primeira eu não consegui distinguir nenhum traço facial, e então eu percebi que ele estava usando uma máscara de esqui.
Ele ficou de pé, fechando a distância entre nós. Ele achatou suas palmas na janela do lado do motorista. Nossos olhos se conectaram através dos buracos na máscara. Um sorriso letal pareceu crescer nos dele.
Ele deu outro golpe, o vidro vibrando entre nós.
Eu dei partida no carro. Eu tentei sincronicamente colocá-lo na primeira marcha, empurrar o acelerador e soltar a embreagem. O motor entrou em movimento, mas o carro moveu-se rapidamente de novo e morreu.
Eu liguei o motor mais uma vez, mas fui distraída por um rosnado metálico desafinado. Eu observei com horror enquanto a porta começava a dobrar. Ele estava arrancando – ela – fora. Eu calquei o carro na primeira. Meus sapatos deslizaram por sobre os pedais.
O motor rugiu, a agulha de RPM13 no painel cravando na zona vermelha.
13 Do inglês revolutions/rounds per minute, ou seja, giros por minuto.
Seu punho passou pela janela numa explosão de vidro. Sua mão tateou meu ombro, fixando-se ao redor da minha mão. Eu dei um grito rouco, pisou com força no acelerador, e soltei a embreagem. O Neon guinchou em movimento. Ele segurou, apertando a minha mão, correndo ao lado do carro por diversos metros antes de soltar.
Eu acelerei para frente com a força da adrenalina. Eu chequei o espelho retrovisor para ter certeza de que ele não estava me perseguindo, então empurrei o espelho para encarar a distância. Eu tive que pressionar os meus lábios juntos para impe
Se apaixonar nunca foi tão fácil... ou tão mortal!
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Capitulo 2 de Sussurro Hush Hush
Capítulo Dois
MINHA MÃE E EU VIVÍAMOS EM UMA FRIA casa de fazenda do século dezoito no limite de Coldwater. É a única casa na Alameda Hawthorne, e os vizinhos mais próximos estão há quase 1,6 quilômetros de distância. Às vezes me pergunto se o construtor original percebeu que de todos os pedaços de terra disponíveis, ele decidiu construir a casa no olho de uma misteriosa inversão atmosférica que parece sugar toda a névoa da costa do Maine e transplantá-la no nosso jardim. A casa estava nesse momento velada por uma melancolia que lembrava espíritos que escaparam e estão vagando.
Eu passei a noite plantada em um banquinho de bar na cozinha na companhia da lição de álgebra e Dorothea, nossa governanta. Minha mãe trabalha para a Empresa de Leião Hugo Renaldi, coordenando leilões imobiliários e de antiguidades em toda a costa oeste. Essa semana ela estava em Charleston, Carolina do Sul. Seu trabalho requeria muitas viagens, e ela pagava Dorothea para cozinhar e limpar, mas eu estava bem certa de que as letras miúdas da descrição do trabalho da Dorothea incluíam manter um olho observador e parental em mim.
“Como foi a escola?” Dorothea perguntou com um ligeiro sotaque alemão. Ela estava de pé na cozinha, esfregando lasanha cozida demais de uma caçarola.
“Tenho um novo parceiro de biologia.”
“Isso é uma coisa boa, ou uma coisa ruim?”
“Vee era a minha antiga parceira.”
“Humph.” Mais esfregação vigorosa, e a carne na parte superior do braço de Dorothea sacolejou. “Uma coisa ruim, então.”
Eu suspirei em concordância.
“Me conte sobre a sua nova parceira. Essa garota, como ela é?”
“Ele é alto, moreno, e irritante.” E misteriosamente fechado. Os olhos de Patch eram órbitas negras. Retendo tudo e retornando nada. Não que eu quisesse saber mais sobre o Patch. Já que eu não tinha gostado do que eu tinha visto na superfície, eu duvidava de que eu gostaria do que estivesse espreitando lá no fundo.
Só que, isso não era exatamente verdade. Eu tinha gostado muito do que eu tinha visto. Músculos longos e magros em seus braços, ombros largos, mas relaxados, e um sorriso que era parcialmente brincalhão, parcialmente sedutor.
Eu estava em uma aliança incômoda comigo mesma, tentando ignorar o que começara a parecer irresistível.
Às nove horas, Dorothea terminou o jantar e trancou a casa ao sair. Como forma de adeus, eu pisquei as luzes da varanda duas vezes; elas devem deve ter penetrado a névoa, porque ela respondeu com uma buzina. Eu estava sozinha.
Eu fiz um inventário dos sentimentos brincando dentro de mim. Eu não estava com fome. Eu não estava cansada. Eu não estava nem mesmo tão solitária. Mas eu estava um pouco inquieta sobre a minha tarefa de biologia. Eu tinha dito ao Patch que eu não ligaria, e seis horas atrás eu tinha falado sério. Tudo em que eu podia pensar agora era que eu não queria falhar. Biologia era a minha matéria mais difícil. Minha nota oscilava problematicamente entre 9 e 8. Na minha mente, essa era a diferença entre uma bolsa de estudos integral e parcial no meu futuro.
Eu fui para a cozinha e peguei o telefone. Eu olhei para o que tinha sobrado dos sete números ainda tatuados na minha mão. Secretamente, eu esperava que o Patch não atendesse a minha ligação. Se ele não estivesse disponível ou cooperasse nas tarefas, era uma evidência que eu podia usar contra ele para convencer o Treinador a desfazer o mapa de assentos. Sentindo-me esperançosa, eu digitei seu número.
Patch respondeu no terceiro toque. “E aí?”
Em um tom prosaico, eu disse, “Estou ligando para ver se podemos nos encontrar hoje à noite. Eu sei que você disse que está ocupado, mas –”
“Nora.” Patch disse meu nome como se fosse a parte final de uma piada. “Achei que você não fosse ligar. Nunca.”
Eu odiava estar comendo as minhas palavras. Eu odiava o Patch por estar esfregando-as. Eu odiava o Treinador por suas tarefas enlouquecedoras. Eu abri minha boca, esperando que algo inteligente saísse. “Bem, podemos nos encontrar ou não?”
“Acontece que eu não posso.”
“Não pode ou não vai?”
“Estou no meio de um jogo de sinuca.” Eu ouvi o sorriso em sua voz. “Um jogo de sinuca importante.”
Pelo barulho de fundo que eu ouvi em sua linha, eu acreditava que ele estava dizendo a verdade – sobre o jogo de sinuca. Se isso era mais importante que a minha tarefa de biologia, era debatível.
“Onde você está?” eu perguntei.
“Bo's Arcade. Não é o seu tipo de lugar.”
“Então vamos fazer a entrevista no telefone. Eu tenho uma lista de perguntas bem –”
Ele desligou na minha cara.
Eu encarei o telefone em descrença, então arranquei uma folha de papel em branco do meu caderno. Eu rabisquei Babaca na primeira linha. Na linha abaixo dessa eu acrescentei Fuma charutos. Vai morrer de câncer de pulmão. Com sorte logo. Excelente forma física.
Eu imediatamente risquei a última observação até que ficasse ilegível.
O relógio do micro-ondas piscava 21:05. Da minha perspectiva, eu tinha duas escolhas. Ou eu inventava minha entrevista com o Patch, ou eu dirigia até a Bo's Arcade. A primeira opção podia ter sido tentadora, se ao menos pudesse bloquear a voz do Treinador alertando que ele checaria todas as respostas para autenticidade. Eu não conhecia o suficiente sobre Patch para blefar a entrevista inteira. E a segunda opção? Nem mesmo remotamente tentadora.
Eu atrasei tomar uma decisão tempo o bastante para ligar para minha mãe. Parte do nosso acordo para ela trabalhar e viajar tanto era que eu agisse responsavelmente e não fosse o tipo de filha que requisitasse supervisão constante. Eu gostava da minha liberdade, e eu não queria fazer nada para dar à minha mãe uma razão para cortar seu salário e pegar um trabalho local para ficar de olho em mim.
No quarto toque, seu correio de voz atendeu.
“Sou eu,” eu disse. “Só estou checando. Tenho lição de biologia para terminar, depois eu vou para a cama. Me ligue no almoço, se você quiser. Te amo.”
Depois de desligar, eu achei uma moeda de 25 centavos na gaveta da cozinha. É melhor deixar decisões complicadas para o destino.
“Cara eu vou,” eu disse ao perfil de George Washington. “Coroa eu fico.” Eu joguei a moeda de 25 centavos no ar, achatei-a nas costas da minha palma, e ousei dar uma espiada. Meu coração espremeu uma batida extra, e eu disse a mim mesma que eu não tinha certeza o que isso significava.
“Não está mais nas minhas mãos agora,” eu disse.
Determinada a acabar com isso o mais rápido possível, eu agarrei um mapa da geladeira, apanhei minhas chaves, e recuei meu Fiat Spider pela estrada. O carro provavelmente fora fofo em 1979, mas eu não era louca pela pintura marrom chocolate, pela ferrugem se espelhando desenfreada pelo para-choque traseiro, ou pelos assentos arrebentados de couro branco.
A Bo's Arcade acabou sendo mais longe do que eu teria gostado, aninhada perto à costa, uma viagem de trinta minutos. Com o mapa esticado no volante,
eu parei o Fiat em um estacionamento atrás de um amplo prédio de blocos cinzas com uma placa elétrica piscando BO'S ARCADE, MAD BLACK PAINTBALL & OZZ’S POOL HALL. Grafite salpicava as paredes, e butucas de cigarro pontuavam a calçada. Claramente o Bo's estaria cheio de futuros estudantes da Ivy League7 e cidadãos modelo. Eu tentei manter meus pensamentos altivos e indiferentes, mas meu estômago estava um pouco inquieto. Checando novamente se eu tinha trancado todas as portas, eu me dirigi para dentro.
7 Grupo de oito universidades privadas do Nordeste dos Estados Unidos da América. O grupo é constituído pelas instituições de maior prestígio científico nos Estados Unidos e no mundo e, assim, atualmente a denominação tem conotação sobretudo de excelência acadêmica.
Eu fiquei na fila, esperando passar pelas cordas. Enquanto o grupo à minha frente pagava, eu passei me espremendo, andando na direção do labirinto de sirenes estrondeantes e das luzes piscantes.
“Acha que merece um passe grátis?” gritou uma voz rouca de fumaça.
Eu me virei e pestanejei para o caixa excepcionalmente tatuado. Eu disse, “Não estou aqui para brincar. Estou procurando por alguém.”
Ele resmungou. “Se quiser passar por mim, tem que pagar.” Ele colocou suas palmas sobre o balcão, onde uma tabela de preços tinha sido colada com durex, mostrando que eu devia quinze dólares. Somente dinheiro.
Eu não tinha dinheiro. E se eu tivesse, eu não teria desperdiçado-o gastando uns poucos minutos interrogando o Patch sobre sua vida pessoal. Eu senti um fluxo de raiva pelo mapa de assentos e por ter que estar aqui em primeiro lugar. Eu só precisava achar o Patch, então poderíamos assegurar a entrevista do lado de fora. Eu não tinha dirigido até aqui para ir embora de mãos vazias.
“Se eu não voltar em dois minutos, eu pago os quinze dólares,” eu disse. Antes que eu pudesse exercitar um melhor julgamento ou reunir um rico mais de coragem, eu fiz algo totalmente fora do normal e me abaixei por debaixo das cordas. Eu não parei lá. Eu me apressei pela arcada, mantendo meus olhos abertos pelo Patch. Eu disse a mim mesma que não conseguia acreditar que estava fazendo isso, mas eu era como uma bola de neve rolante, ganhando velocidade e ímpeto. Nesse momento eu só queria achar o Patch e cair fora.
O caixa me seguiu, gritando, “Ei!”
Certa de que o Patch não estava no nível principal, eu corri escada abaixo, seguindo placas para o Ozz’ Pool Hall. Ao fim da escada, uma trilha de iluminação turva iluminava diversas mesas de pôquer, todas em uso. Fumaça de charuto quase tão grossa quanto à névoa envolvendo a minha casa escurecia o teto baixo. Aninhada entre as mesas de pôquer e o bar estava uma fileira de
mesas de sinuca. Patch estava esticado na que ficava transversalmente a mim, tentando uma difícil tacada de mestre.
“Patch!” eu chamei.
Bem quando eu falei, ele atirou seu taco de sinuca, impulsionando-o no topo da mesa. Sua cabeça levantou-se rapidamente. Ele me encarou com uma mistura de surpresa e curiosidade.
O caixa claudicou os passos atrás de mim, mirando no meu ombro com sua mão. “Para cima. Agora.”
A boca de Patch se deslocou em outro quase sorriso. Difícil dizer se era zombador ou amigável. “Ela está comigo.”
Isso pareceu ter alguma influência com o caixa, que relaxou seu aperto. Antes que ele pudesse mudar de ideia, eu retirei sua mão e contorci-me entre as mesas na direção de Patch. Eu andei os primeiros diversos passos a passos largos, mas descobri minha confiança escorregando quando mais perto eu chegava dele.
Eu fiquei imediatamente consciente de algo diferente nele. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas eu podia sentir isso como eletricidade. Mais animosidade?
Mais confiança.
Mais liberdade de ser ele mesmo. E aqueles olhos negros estavam me incomodando. Eles eram como imãs, unindo-se a cada movimento meu. Eu engoli em seco discretamente e tentei ignorar o enjoativo sapateado no meu estômago. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas algo em Patch não era correto. Algo nele não era normal. Algo não era... seguro.
“Desculpe por ter desligado,” Patch disse, vindo ao meu lado. “A recepção não é boa aqui embaixo.”
É, tá bom.
Com uma inclinação de sua cabeça, Patch gesticulou para que os outros fossem embora. Houve um silêncio inquietante antes que qualquer um se movesse. O primeiro cara a sair bateu no meu ombro enquanto passava. Eu dei um passo para trás para me equilibrar e olhei para cima bem em tempo de receber olhares frios de outros dois jogadores enquanto eles partiam.
Ótimo. Não era minha culpa que Patch era meu parceiro.
“Bola oito8?” Eu perguntei a ele, levantando minhas sobrancelhas e tentando soar completamente certa de mim mesma, dos meus arredores.
8 Jogo de bilhar americano que se disputa com as bolas da 1 a 15. Se ganha embolsando a bola 8 (negra), depois de ter encaçapado o grupo de bolas que corresponde a cada jogador, o da 1 a 7 ou da 10 a 15. Deve-se anunciar a bola que se introduzirá em cada tacada e a bolsa em que se fará.
Talvez ele estivesse certo e o Bo’s não fosse o meu tipo de lugar. Isso não queria dizer que eu ia correr em direção às portas. “Em quanto estão às apostas?”
Seu sorriso se alargou. Dessa vez eu estava bem certa de que ele estava zombando de mim. “Nós não jogamos por dinheiro.”
Eu coloquei minha bolsa de mão na ponta da mesa. “Que pena. Eu ia apostar tudo que eu tenho contra você.” Eu levantei minha tarefa, duas linhas já preenchidas. “Algumas rápidas perguntas e estou fora daqui.”
“Babaca?” Patch leu em voz alta, inclinando-se sobre seu taco de sinuca. “Câncer de pulmão? É pra isso ser profético?”
Eu ventilei a tarefa pelo ar. “Assumo que você contribuiu para a atmosfera. Quantos charutos por noite? Um? Dois?”
“Eu não fumo.” Ele soava sincero, mas eu não engolia.
“Mm-hmm,” eu disse, deixando o papel de lado entre a bola oito e a roxa sólida. Eu acidentalmente acotovelei a roxa sólida enquanto escrevia Charutos, definitivamente na linha três.
“Você está bagunçando o jogo,” Patch disse, ainda sorrindo.
Eu captei seu olhar e não pude evitar igualar seu sorriso – brevemente. “Com sorte não em seu favor. Maior sonho?” Eu estava orgulhosa dessa porque sabia que iria aturdi-lo. Ela requeria premeditação.
“Beijar você.”
“Isso não é engraçado,” eu disse, segurando seus olhos, grata por não ter gaguejado.
“Não, mas fez você corar.”
Eu me empurrei para o lado da mesa, tentando parecer apática enquanto fazia isso. Eu cruzei minhas pernas, usando meu joelho como uma tábua para escrever. “Você trabalha?”
“Eu sirvo mesas no Borderline. O melhor restaurante mexicano da cidade.”
“Religião?”
Ele não pareceu surpreso pela pergunta, mas ele não pareceu radiante com ela tampouco. “Eu pensei que você tivesse dito algumas rápidas perguntas. Você já está na número quatro.”
“Religião?” eu perguntei mais firmemente.
Patch arrastou uma mão pensativamente pela linha de sua mandíbula. “Religião não... culto.”
“Você pertence a um culto?” Eu percebi tarde demais que, embora eu soasse surpresa, eu não deveria ter.
“Acontece que eu estou precisando de um sacrifício feminino saudável. Eu planejava seduzi-la para que confiasse em mim primeiro, mas se você está pronta agora...”
Qualquer sorriso restante no meu rosto desapareceu. “Você não está me impressionando.”
“Eu não comecei a tentar ainda.”
Eu me debrucei da mesa e fiquei de pé encarando-o. Ele era uma cabeça inteira mais alto. “Vee me disse que você é um veterano. Quantas vezes você reprovou em biologia do segundo ano? Uma vez? Duas vezes?”
“Vee não é minha porta-voz.”
“Está negando ter reprovado?”
“Estou te dizendo que eu não fui para a escola ano passado.” Seus olhos me zombaram... Isso só me deixou mais determinada.
“Você é uma cabulador?”
Patch deitou seu taco de sinuca no topo da mesa e curvou um dedo para mim chegar mais perto. Eu não cheguei. “Um segredo?” ele disse em tons confidenciais. “Eu nunca fui pra escola antes. Outro segredo? Não é tão chato quando eu esperava.”
Ele estava mentindo. Todos iam para a escola. Havia leis. Ele estava mentindo para tirar alguma resposta de mim.
“Você acha que eu estou mentindo,” ele disse em volta de um sorriso.
“Você nunca foi para a escola, nunca? Se isso for verdade – e você está certo, eu não acho que seja – o que fez você decidir vir esse ano?”
“Você.”
O impulso de me sentir assustada golpeou-me, mas eu disse a mim mesma que era exatamente isso que Patch queria. Marcando meu território, eu tentei agir irritada, ao invés. Ainda assim, levei um momento para achar minha voz. “Essa não é uma resposta de verdade.”
Ele deve ter dado um passo para mais perto, porque de repente nossos corpos estavam separados por nada mais do que uma superficial margem de ar. “Seus olhos, Nora. Esses olhos cinzas frios e pálidos são surpreendentemente irresistíveis.” Ele curvou sua cabeça de lado, como se para me estudar de um novo ângulo. “E essa boca curvilínea assassina.”
Espantada não tanto pelo comentário dele, mas pela parte de mim que respondeu positivamente a ele, eu recuei. “Já chega. Vou cair fora daqui.”
Mas assim que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que elas não eram verdadeiras. Eu senti o desejo de dizer algo mais. Selecionando os pensamentos emaranhados na minha cabeça, eu tentei achar o que era que eu
sentia que devia dizer. Por que ele era tão irrisório, e por que ele agia como se eu tivesse feito algo para merecer isso?
“Você parece saber muito sobre mim,” eu disse, fazendo a atenuação do ano. “Mais do que você deveria. Você parece saber exatamente o que dizer para me deixar desconfortável.”
“Você facilita.”
Uma faísca de raiva disparou por mim. “Você admite que está fazendo isso de propósito?”
“Isso?”
“Isso – me provocando.”
“Diga ‘provocando’ novamente. Sua boca fica provocativa quando você faz isso.”
“Acabamos aqui. Termine seu jogo de sinuca.” Eu agarrei seu taco de sinuca da mesa e empurrei para ele. Ele não pegou-o.
“Eu não gosto de sentar do seu lado,” eu disse. “Eu não gosto de ser sua parceira. Eu não gosto do seu sorriso condescente.” Minha mandíbula tremeu – algo que tipicamente acontecia quando eu mentia. Eu me perguntei se eu estava mentindo agora. Se eu estivesse, eu queria me chutar. “Eu não gosto de você,” eu disse o mais convincentemente que consegui, e enfiei o taco contra seu peito.
“Estou feliz pelo Treinador nos ter colocado juntos,” ele disse. Eu detectei uma leve ironia na palavra “Treinador”, mas eu não consegui descobrir nenhum significado escondido. Dessa vez ele pegou o taco de sinuca.
“Estou trabalhando para mudar isso,” eu reagi.
Patch achou que isso era tão engraçado que seus dentes apareceram em seu sorriso. Ele se esticou até mim, e antes que eu pudesse me afastar, ele desembaraçou algo do meu cabelo.
“Pedaço de papel,” ele explicou, jogando-o no chão. Enquanto ele esticava sua mão, eu notei uma marca na parte interna do seu pulso. De primeira eu presumi que fosse uma tatuagem, mas um segundo olhar revelou um marrom rubicundo, uma marca de nascença ligeiramente levantada. Era da forma de um pingo de tinta esparramado.
“Que lugar infeliz para uma marca de nascença,” eu disse, mais do que um pouco enervada por estar tão similarmente posicionada à minha própria cicatriz.
Patch casual e notavelmente deslizou sua manga sobre seu pulso. “Você preferiria em algum lugar mais privado?”
“Eu não a preferiria em qualquer outro lugar.” Eu não estava certa de como isso soava e tentei novamente. “Eu não ligaria se você nem ao menos a tivesse.” Eu tentei uma terceira vez. “Eu não ligo para a sua marca de nascença, ponto.”
“Mais perguntas?” ele perguntou. “Comentários?”
“Não.”
“Então te vejo na aula de biologia.”
Eu pensei em dizer a ele que ele nunca me veria novamente. Mas eu não ia comer minhas palavras duas vezes em um dia.
Mais tarde naquela noite um crack! me puxou do sono. Com meu rosto esmagado contra meu travesseiro, eu fiquei imóvel, todos os meus sentidos em alerta total. Minha mãe ficava fora da cidade pelo menos uma vez por mês por causa do trabalho, então eu estava acostumada a dormir sozinha, e fazia meses desde que eu tinha imaginado o som de passos rastejando pelo corredor na direção do meu quarto. A verdade era que eu nunca me sentia completamente sozinha. Logo depois do meu pai ter sido atirado até a morte em Portland enquanto comprava um presente de aniversário para a minha mãe, uma presença estranha entrou na minha vida. Como se alguém estivesse orbitando meu mundo, observando de longe. De primeira a presença fantasmagórica tinha me apavorado, mas quando nada de ruim sucedeu disso, minha ansiedade perdeu sua animação. Eu comecei a me perguntar se havia um propósito cósmico para a maneira como eu estava me sentindo. Talvez o espírito do meu pai estivesse por perto. O pensamento era geralmente confortante, mas hoje a noite era diferente. A presença parecia gelo na pele.
Virando a minha cabeça uma fração, eu vi uma forma sombreada se esticando pelo meu chão. Eu girei para ver um rosto na janela, o raio de luz transparente do luar a única luz no quarto capaz de jogar sombras. Mas nada estava lá. Eu apertei meu travesseiro contra mim e disse a mim mesma que era uma nuvem passando sobre a lua. Ou um pedaço de lixo soprando no vento. Ainda assim, eu passei os próximos minutos esperando minha pulsação se acalmar.
Na hora que eu reuni coragem para sair da cama, o jardim abaixo da minha janela estava silencioso e imóvel. O único barulho vinha dos gravetos de árvore arranhando a casa, e do meu próprio coração batendo debaixo da minha pele.
MINHA MÃE E EU VIVÍAMOS EM UMA FRIA casa de fazenda do século dezoito no limite de Coldwater. É a única casa na Alameda Hawthorne, e os vizinhos mais próximos estão há quase 1,6 quilômetros de distância. Às vezes me pergunto se o construtor original percebeu que de todos os pedaços de terra disponíveis, ele decidiu construir a casa no olho de uma misteriosa inversão atmosférica que parece sugar toda a névoa da costa do Maine e transplantá-la no nosso jardim. A casa estava nesse momento velada por uma melancolia que lembrava espíritos que escaparam e estão vagando.
Eu passei a noite plantada em um banquinho de bar na cozinha na companhia da lição de álgebra e Dorothea, nossa governanta. Minha mãe trabalha para a Empresa de Leião Hugo Renaldi, coordenando leilões imobiliários e de antiguidades em toda a costa oeste. Essa semana ela estava em Charleston, Carolina do Sul. Seu trabalho requeria muitas viagens, e ela pagava Dorothea para cozinhar e limpar, mas eu estava bem certa de que as letras miúdas da descrição do trabalho da Dorothea incluíam manter um olho observador e parental em mim.
“Como foi a escola?” Dorothea perguntou com um ligeiro sotaque alemão. Ela estava de pé na cozinha, esfregando lasanha cozida demais de uma caçarola.
“Tenho um novo parceiro de biologia.”
“Isso é uma coisa boa, ou uma coisa ruim?”
“Vee era a minha antiga parceira.”
“Humph.” Mais esfregação vigorosa, e a carne na parte superior do braço de Dorothea sacolejou. “Uma coisa ruim, então.”
Eu suspirei em concordância.
“Me conte sobre a sua nova parceira. Essa garota, como ela é?”
“Ele é alto, moreno, e irritante.” E misteriosamente fechado. Os olhos de Patch eram órbitas negras. Retendo tudo e retornando nada. Não que eu quisesse saber mais sobre o Patch. Já que eu não tinha gostado do que eu tinha visto na superfície, eu duvidava de que eu gostaria do que estivesse espreitando lá no fundo.
Só que, isso não era exatamente verdade. Eu tinha gostado muito do que eu tinha visto. Músculos longos e magros em seus braços, ombros largos, mas relaxados, e um sorriso que era parcialmente brincalhão, parcialmente sedutor.
Eu estava em uma aliança incômoda comigo mesma, tentando ignorar o que começara a parecer irresistível.
Às nove horas, Dorothea terminou o jantar e trancou a casa ao sair. Como forma de adeus, eu pisquei as luzes da varanda duas vezes; elas devem deve ter penetrado a névoa, porque ela respondeu com uma buzina. Eu estava sozinha.
Eu fiz um inventário dos sentimentos brincando dentro de mim. Eu não estava com fome. Eu não estava cansada. Eu não estava nem mesmo tão solitária. Mas eu estava um pouco inquieta sobre a minha tarefa de biologia. Eu tinha dito ao Patch que eu não ligaria, e seis horas atrás eu tinha falado sério. Tudo em que eu podia pensar agora era que eu não queria falhar. Biologia era a minha matéria mais difícil. Minha nota oscilava problematicamente entre 9 e 8. Na minha mente, essa era a diferença entre uma bolsa de estudos integral e parcial no meu futuro.
Eu fui para a cozinha e peguei o telefone. Eu olhei para o que tinha sobrado dos sete números ainda tatuados na minha mão. Secretamente, eu esperava que o Patch não atendesse a minha ligação. Se ele não estivesse disponível ou cooperasse nas tarefas, era uma evidência que eu podia usar contra ele para convencer o Treinador a desfazer o mapa de assentos. Sentindo-me esperançosa, eu digitei seu número.
Patch respondeu no terceiro toque. “E aí?”
Em um tom prosaico, eu disse, “Estou ligando para ver se podemos nos encontrar hoje à noite. Eu sei que você disse que está ocupado, mas –”
“Nora.” Patch disse meu nome como se fosse a parte final de uma piada. “Achei que você não fosse ligar. Nunca.”
Eu odiava estar comendo as minhas palavras. Eu odiava o Patch por estar esfregando-as. Eu odiava o Treinador por suas tarefas enlouquecedoras. Eu abri minha boca, esperando que algo inteligente saísse. “Bem, podemos nos encontrar ou não?”
“Acontece que eu não posso.”
“Não pode ou não vai?”
“Estou no meio de um jogo de sinuca.” Eu ouvi o sorriso em sua voz. “Um jogo de sinuca importante.”
Pelo barulho de fundo que eu ouvi em sua linha, eu acreditava que ele estava dizendo a verdade – sobre o jogo de sinuca. Se isso era mais importante que a minha tarefa de biologia, era debatível.
“Onde você está?” eu perguntei.
“Bo's Arcade. Não é o seu tipo de lugar.”
“Então vamos fazer a entrevista no telefone. Eu tenho uma lista de perguntas bem –”
Ele desligou na minha cara.
Eu encarei o telefone em descrença, então arranquei uma folha de papel em branco do meu caderno. Eu rabisquei Babaca na primeira linha. Na linha abaixo dessa eu acrescentei Fuma charutos. Vai morrer de câncer de pulmão. Com sorte logo. Excelente forma física.
Eu imediatamente risquei a última observação até que ficasse ilegível.
O relógio do micro-ondas piscava 21:05. Da minha perspectiva, eu tinha duas escolhas. Ou eu inventava minha entrevista com o Patch, ou eu dirigia até a Bo's Arcade. A primeira opção podia ter sido tentadora, se ao menos pudesse bloquear a voz do Treinador alertando que ele checaria todas as respostas para autenticidade. Eu não conhecia o suficiente sobre Patch para blefar a entrevista inteira. E a segunda opção? Nem mesmo remotamente tentadora.
Eu atrasei tomar uma decisão tempo o bastante para ligar para minha mãe. Parte do nosso acordo para ela trabalhar e viajar tanto era que eu agisse responsavelmente e não fosse o tipo de filha que requisitasse supervisão constante. Eu gostava da minha liberdade, e eu não queria fazer nada para dar à minha mãe uma razão para cortar seu salário e pegar um trabalho local para ficar de olho em mim.
No quarto toque, seu correio de voz atendeu.
“Sou eu,” eu disse. “Só estou checando. Tenho lição de biologia para terminar, depois eu vou para a cama. Me ligue no almoço, se você quiser. Te amo.”
Depois de desligar, eu achei uma moeda de 25 centavos na gaveta da cozinha. É melhor deixar decisões complicadas para o destino.
“Cara eu vou,” eu disse ao perfil de George Washington. “Coroa eu fico.” Eu joguei a moeda de 25 centavos no ar, achatei-a nas costas da minha palma, e ousei dar uma espiada. Meu coração espremeu uma batida extra, e eu disse a mim mesma que eu não tinha certeza o que isso significava.
“Não está mais nas minhas mãos agora,” eu disse.
Determinada a acabar com isso o mais rápido possível, eu agarrei um mapa da geladeira, apanhei minhas chaves, e recuei meu Fiat Spider pela estrada. O carro provavelmente fora fofo em 1979, mas eu não era louca pela pintura marrom chocolate, pela ferrugem se espelhando desenfreada pelo para-choque traseiro, ou pelos assentos arrebentados de couro branco.
A Bo's Arcade acabou sendo mais longe do que eu teria gostado, aninhada perto à costa, uma viagem de trinta minutos. Com o mapa esticado no volante,
eu parei o Fiat em um estacionamento atrás de um amplo prédio de blocos cinzas com uma placa elétrica piscando BO'S ARCADE, MAD BLACK PAINTBALL & OZZ’S POOL HALL. Grafite salpicava as paredes, e butucas de cigarro pontuavam a calçada. Claramente o Bo's estaria cheio de futuros estudantes da Ivy League7 e cidadãos modelo. Eu tentei manter meus pensamentos altivos e indiferentes, mas meu estômago estava um pouco inquieto. Checando novamente se eu tinha trancado todas as portas, eu me dirigi para dentro.
7 Grupo de oito universidades privadas do Nordeste dos Estados Unidos da América. O grupo é constituído pelas instituições de maior prestígio científico nos Estados Unidos e no mundo e, assim, atualmente a denominação tem conotação sobretudo de excelência acadêmica.
Eu fiquei na fila, esperando passar pelas cordas. Enquanto o grupo à minha frente pagava, eu passei me espremendo, andando na direção do labirinto de sirenes estrondeantes e das luzes piscantes.
“Acha que merece um passe grátis?” gritou uma voz rouca de fumaça.
Eu me virei e pestanejei para o caixa excepcionalmente tatuado. Eu disse, “Não estou aqui para brincar. Estou procurando por alguém.”
Ele resmungou. “Se quiser passar por mim, tem que pagar.” Ele colocou suas palmas sobre o balcão, onde uma tabela de preços tinha sido colada com durex, mostrando que eu devia quinze dólares. Somente dinheiro.
Eu não tinha dinheiro. E se eu tivesse, eu não teria desperdiçado-o gastando uns poucos minutos interrogando o Patch sobre sua vida pessoal. Eu senti um fluxo de raiva pelo mapa de assentos e por ter que estar aqui em primeiro lugar. Eu só precisava achar o Patch, então poderíamos assegurar a entrevista do lado de fora. Eu não tinha dirigido até aqui para ir embora de mãos vazias.
“Se eu não voltar em dois minutos, eu pago os quinze dólares,” eu disse. Antes que eu pudesse exercitar um melhor julgamento ou reunir um rico mais de coragem, eu fiz algo totalmente fora do normal e me abaixei por debaixo das cordas. Eu não parei lá. Eu me apressei pela arcada, mantendo meus olhos abertos pelo Patch. Eu disse a mim mesma que não conseguia acreditar que estava fazendo isso, mas eu era como uma bola de neve rolante, ganhando velocidade e ímpeto. Nesse momento eu só queria achar o Patch e cair fora.
O caixa me seguiu, gritando, “Ei!”
Certa de que o Patch não estava no nível principal, eu corri escada abaixo, seguindo placas para o Ozz’ Pool Hall. Ao fim da escada, uma trilha de iluminação turva iluminava diversas mesas de pôquer, todas em uso. Fumaça de charuto quase tão grossa quanto à névoa envolvendo a minha casa escurecia o teto baixo. Aninhada entre as mesas de pôquer e o bar estava uma fileira de
mesas de sinuca. Patch estava esticado na que ficava transversalmente a mim, tentando uma difícil tacada de mestre.
“Patch!” eu chamei.
Bem quando eu falei, ele atirou seu taco de sinuca, impulsionando-o no topo da mesa. Sua cabeça levantou-se rapidamente. Ele me encarou com uma mistura de surpresa e curiosidade.
O caixa claudicou os passos atrás de mim, mirando no meu ombro com sua mão. “Para cima. Agora.”
A boca de Patch se deslocou em outro quase sorriso. Difícil dizer se era zombador ou amigável. “Ela está comigo.”
Isso pareceu ter alguma influência com o caixa, que relaxou seu aperto. Antes que ele pudesse mudar de ideia, eu retirei sua mão e contorci-me entre as mesas na direção de Patch. Eu andei os primeiros diversos passos a passos largos, mas descobri minha confiança escorregando quando mais perto eu chegava dele.
Eu fiquei imediatamente consciente de algo diferente nele. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas eu podia sentir isso como eletricidade. Mais animosidade?
Mais confiança.
Mais liberdade de ser ele mesmo. E aqueles olhos negros estavam me incomodando. Eles eram como imãs, unindo-se a cada movimento meu. Eu engoli em seco discretamente e tentei ignorar o enjoativo sapateado no meu estômago. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas algo em Patch não era correto. Algo nele não era normal. Algo não era... seguro.
“Desculpe por ter desligado,” Patch disse, vindo ao meu lado. “A recepção não é boa aqui embaixo.”
É, tá bom.
Com uma inclinação de sua cabeça, Patch gesticulou para que os outros fossem embora. Houve um silêncio inquietante antes que qualquer um se movesse. O primeiro cara a sair bateu no meu ombro enquanto passava. Eu dei um passo para trás para me equilibrar e olhei para cima bem em tempo de receber olhares frios de outros dois jogadores enquanto eles partiam.
Ótimo. Não era minha culpa que Patch era meu parceiro.
“Bola oito8?” Eu perguntei a ele, levantando minhas sobrancelhas e tentando soar completamente certa de mim mesma, dos meus arredores.
8 Jogo de bilhar americano que se disputa com as bolas da 1 a 15. Se ganha embolsando a bola 8 (negra), depois de ter encaçapado o grupo de bolas que corresponde a cada jogador, o da 1 a 7 ou da 10 a 15. Deve-se anunciar a bola que se introduzirá em cada tacada e a bolsa em que se fará.
Talvez ele estivesse certo e o Bo’s não fosse o meu tipo de lugar. Isso não queria dizer que eu ia correr em direção às portas. “Em quanto estão às apostas?”
Seu sorriso se alargou. Dessa vez eu estava bem certa de que ele estava zombando de mim. “Nós não jogamos por dinheiro.”
Eu coloquei minha bolsa de mão na ponta da mesa. “Que pena. Eu ia apostar tudo que eu tenho contra você.” Eu levantei minha tarefa, duas linhas já preenchidas. “Algumas rápidas perguntas e estou fora daqui.”
“Babaca?” Patch leu em voz alta, inclinando-se sobre seu taco de sinuca. “Câncer de pulmão? É pra isso ser profético?”
Eu ventilei a tarefa pelo ar. “Assumo que você contribuiu para a atmosfera. Quantos charutos por noite? Um? Dois?”
“Eu não fumo.” Ele soava sincero, mas eu não engolia.
“Mm-hmm,” eu disse, deixando o papel de lado entre a bola oito e a roxa sólida. Eu acidentalmente acotovelei a roxa sólida enquanto escrevia Charutos, definitivamente na linha três.
“Você está bagunçando o jogo,” Patch disse, ainda sorrindo.
Eu captei seu olhar e não pude evitar igualar seu sorriso – brevemente. “Com sorte não em seu favor. Maior sonho?” Eu estava orgulhosa dessa porque sabia que iria aturdi-lo. Ela requeria premeditação.
“Beijar você.”
“Isso não é engraçado,” eu disse, segurando seus olhos, grata por não ter gaguejado.
“Não, mas fez você corar.”
Eu me empurrei para o lado da mesa, tentando parecer apática enquanto fazia isso. Eu cruzei minhas pernas, usando meu joelho como uma tábua para escrever. “Você trabalha?”
“Eu sirvo mesas no Borderline. O melhor restaurante mexicano da cidade.”
“Religião?”
Ele não pareceu surpreso pela pergunta, mas ele não pareceu radiante com ela tampouco. “Eu pensei que você tivesse dito algumas rápidas perguntas. Você já está na número quatro.”
“Religião?” eu perguntei mais firmemente.
Patch arrastou uma mão pensativamente pela linha de sua mandíbula. “Religião não... culto.”
“Você pertence a um culto?” Eu percebi tarde demais que, embora eu soasse surpresa, eu não deveria ter.
“Acontece que eu estou precisando de um sacrifício feminino saudável. Eu planejava seduzi-la para que confiasse em mim primeiro, mas se você está pronta agora...”
Qualquer sorriso restante no meu rosto desapareceu. “Você não está me impressionando.”
“Eu não comecei a tentar ainda.”
Eu me debrucei da mesa e fiquei de pé encarando-o. Ele era uma cabeça inteira mais alto. “Vee me disse que você é um veterano. Quantas vezes você reprovou em biologia do segundo ano? Uma vez? Duas vezes?”
“Vee não é minha porta-voz.”
“Está negando ter reprovado?”
“Estou te dizendo que eu não fui para a escola ano passado.” Seus olhos me zombaram... Isso só me deixou mais determinada.
“Você é uma cabulador?”
Patch deitou seu taco de sinuca no topo da mesa e curvou um dedo para mim chegar mais perto. Eu não cheguei. “Um segredo?” ele disse em tons confidenciais. “Eu nunca fui pra escola antes. Outro segredo? Não é tão chato quando eu esperava.”
Ele estava mentindo. Todos iam para a escola. Havia leis. Ele estava mentindo para tirar alguma resposta de mim.
“Você acha que eu estou mentindo,” ele disse em volta de um sorriso.
“Você nunca foi para a escola, nunca? Se isso for verdade – e você está certo, eu não acho que seja – o que fez você decidir vir esse ano?”
“Você.”
O impulso de me sentir assustada golpeou-me, mas eu disse a mim mesma que era exatamente isso que Patch queria. Marcando meu território, eu tentei agir irritada, ao invés. Ainda assim, levei um momento para achar minha voz. “Essa não é uma resposta de verdade.”
Ele deve ter dado um passo para mais perto, porque de repente nossos corpos estavam separados por nada mais do que uma superficial margem de ar. “Seus olhos, Nora. Esses olhos cinzas frios e pálidos são surpreendentemente irresistíveis.” Ele curvou sua cabeça de lado, como se para me estudar de um novo ângulo. “E essa boca curvilínea assassina.”
Espantada não tanto pelo comentário dele, mas pela parte de mim que respondeu positivamente a ele, eu recuei. “Já chega. Vou cair fora daqui.”
Mas assim que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que elas não eram verdadeiras. Eu senti o desejo de dizer algo mais. Selecionando os pensamentos emaranhados na minha cabeça, eu tentei achar o que era que eu
sentia que devia dizer. Por que ele era tão irrisório, e por que ele agia como se eu tivesse feito algo para merecer isso?
“Você parece saber muito sobre mim,” eu disse, fazendo a atenuação do ano. “Mais do que você deveria. Você parece saber exatamente o que dizer para me deixar desconfortável.”
“Você facilita.”
Uma faísca de raiva disparou por mim. “Você admite que está fazendo isso de propósito?”
“Isso?”
“Isso – me provocando.”
“Diga ‘provocando’ novamente. Sua boca fica provocativa quando você faz isso.”
“Acabamos aqui. Termine seu jogo de sinuca.” Eu agarrei seu taco de sinuca da mesa e empurrei para ele. Ele não pegou-o.
“Eu não gosto de sentar do seu lado,” eu disse. “Eu não gosto de ser sua parceira. Eu não gosto do seu sorriso condescente.” Minha mandíbula tremeu – algo que tipicamente acontecia quando eu mentia. Eu me perguntei se eu estava mentindo agora. Se eu estivesse, eu queria me chutar. “Eu não gosto de você,” eu disse o mais convincentemente que consegui, e enfiei o taco contra seu peito.
“Estou feliz pelo Treinador nos ter colocado juntos,” ele disse. Eu detectei uma leve ironia na palavra “Treinador”, mas eu não consegui descobrir nenhum significado escondido. Dessa vez ele pegou o taco de sinuca.
“Estou trabalhando para mudar isso,” eu reagi.
Patch achou que isso era tão engraçado que seus dentes apareceram em seu sorriso. Ele se esticou até mim, e antes que eu pudesse me afastar, ele desembaraçou algo do meu cabelo.
“Pedaço de papel,” ele explicou, jogando-o no chão. Enquanto ele esticava sua mão, eu notei uma marca na parte interna do seu pulso. De primeira eu presumi que fosse uma tatuagem, mas um segundo olhar revelou um marrom rubicundo, uma marca de nascença ligeiramente levantada. Era da forma de um pingo de tinta esparramado.
“Que lugar infeliz para uma marca de nascença,” eu disse, mais do que um pouco enervada por estar tão similarmente posicionada à minha própria cicatriz.
Patch casual e notavelmente deslizou sua manga sobre seu pulso. “Você preferiria em algum lugar mais privado?”
“Eu não a preferiria em qualquer outro lugar.” Eu não estava certa de como isso soava e tentei novamente. “Eu não ligaria se você nem ao menos a tivesse.” Eu tentei uma terceira vez. “Eu não ligo para a sua marca de nascença, ponto.”
“Mais perguntas?” ele perguntou. “Comentários?”
“Não.”
“Então te vejo na aula de biologia.”
Eu pensei em dizer a ele que ele nunca me veria novamente. Mas eu não ia comer minhas palavras duas vezes em um dia.
Mais tarde naquela noite um crack! me puxou do sono. Com meu rosto esmagado contra meu travesseiro, eu fiquei imóvel, todos os meus sentidos em alerta total. Minha mãe ficava fora da cidade pelo menos uma vez por mês por causa do trabalho, então eu estava acostumada a dormir sozinha, e fazia meses desde que eu tinha imaginado o som de passos rastejando pelo corredor na direção do meu quarto. A verdade era que eu nunca me sentia completamente sozinha. Logo depois do meu pai ter sido atirado até a morte em Portland enquanto comprava um presente de aniversário para a minha mãe, uma presença estranha entrou na minha vida. Como se alguém estivesse orbitando meu mundo, observando de longe. De primeira a presença fantasmagórica tinha me apavorado, mas quando nada de ruim sucedeu disso, minha ansiedade perdeu sua animação. Eu comecei a me perguntar se havia um propósito cósmico para a maneira como eu estava me sentindo. Talvez o espírito do meu pai estivesse por perto. O pensamento era geralmente confortante, mas hoje a noite era diferente. A presença parecia gelo na pele.
Virando a minha cabeça uma fração, eu vi uma forma sombreada se esticando pelo meu chão. Eu girei para ver um rosto na janela, o raio de luz transparente do luar a única luz no quarto capaz de jogar sombras. Mas nada estava lá. Eu apertei meu travesseiro contra mim e disse a mim mesma que era uma nuvem passando sobre a lua. Ou um pedaço de lixo soprando no vento. Ainda assim, eu passei os próximos minutos esperando minha pulsação se acalmar.
Na hora que eu reuni coragem para sair da cama, o jardim abaixo da minha janela estava silencioso e imóvel. O único barulho vinha dos gravetos de árvore arranhando a casa, e do meu próprio coração batendo debaixo da minha pele.
Mais um Still de Sussurro !
Se apaixonar nunca foi tão fácil... ou tão mortal!
Para Nora Grey, romance não fazia parte do plano. Ela nunca esteve particularmente atraída aos garotos de sua escola, não importa o quanto sua melhor amiga, Vee, a empurre em cima deles. Não até que Patch chegue.
Com aquele sorriso fácil e olhos que parecem ver dentro dela, Nora fica atraída a ele contra sua vontade. Mas após uma série de aterrorizantes encontros, Nora não tem certeza em quem confiar. Patch parece estar em todo o lugar que ela está, e saber mais sobre ela do que seus amigos mais próximos. Ela não consegue decidir se deve cair em seus braços ou correr e se esconder. E quando ela tenta buscar algumas respostas, ela se encontra perto de uma verdade que é mais perturbadora do que qualquer coisa que Patch a faça sentir.
Porque Nora está bem no meio de uma antiga batalha entre os imortais e aqueles que sucumbiram - e, quando se trata de escolher lados, a escolha errada custará a sua vida.
Para Nora Grey, romance não fazia parte do plano. Ela nunca esteve particularmente atraída aos garotos de sua escola, não importa o quanto sua melhor amiga, Vee, a empurre em cima deles. Não até que Patch chegue.
Com aquele sorriso fácil e olhos que parecem ver dentro dela, Nora fica atraída a ele contra sua vontade. Mas após uma série de aterrorizantes encontros, Nora não tem certeza em quem confiar. Patch parece estar em todo o lugar que ela está, e saber mais sobre ela do que seus amigos mais próximos. Ela não consegue decidir se deve cair em seus braços ou correr e se esconder. E quando ela tenta buscar algumas respostas, ela se encontra perto de uma verdade que é mais perturbadora do que qualquer coisa que Patch a faça sentir.
Porque Nora está bem no meio de uma antiga batalha entre os imortais e aqueles que sucumbiram - e, quando se trata de escolher lados, a escolha errada custará a sua vida.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Cont . do primeiro capitulo de Sussurro
Capítulo Um
Coldwater, Maine
Dias atuais
Eu entrei na aula de biologia e meu queixo caiu. Misteriosamente aderido ao quadro-negro estava uma boneca Barbie, com Ken ao seu lado. Eles foram forçados a dar os braços e estavam nus, exceto por folhas artificiais colocadas em alguns lugares específicos. Rabiscado acima de suas cabeças em giz grosso rosa estava a convocação:
BEM VINDOS À REPRODUÇÃO HUMANA (SEXO)
Ao meu lado, Vee Sky disse, “É exatamente por isso que a escola proíbe câmeras de celular. Fotos disso no eZine seriam toda a evidência que eu precisaria para ir ao conselho da educação para remover biologia. E então teríamos essa hora para fazer algo produtivo – como receber monitoramento particular de veteranos gracinhas.”
“Ora, Vee,” eu disse, “Eu podia jurar que você estava esperando essa unidade o semestre todo.” Vee abaixou os cílios e sorriu maliciosamente. “Essa aula não vai me ensinar nada que eu já não saiba.”
“Vee? Tipo, virgem?”
“Não tão alto.” Ela piscou bem quando o sino tocou, mandando nós duas a nossos lugares, que eram lado a lado na nossa mesa compartilhada.
O Treinador McConaughy agarrou o apito balançando de uma corrente ao redor de seu pescoço e o assoprou. “Assentos, time!” O Treinador considerava ensinar biologia do segundo ano uma missão secundária de seu trabalho como treinador de basquete escolar, e todos sabíamos disso.
“Vocês podem não ter percebido que sexo é mais do que uma viagem de quinze minutos ao banco traseiro do carro. É ciência. E o que é ciência?”
“Uma chatice,” algum garoto no fundo da sala gritou.
“A única aula que eu estou reprovando,” disse outro.
Os olhos do Treinador examinaram a fileira da frente, parando em mim. “Nora?”
“O estudo de alguma coisa,” eu disse.
Ele andou até aqui e enfiou seu dedo indicador na mesa na minha frente. “O que mais?”
“Conhecimento ganho através de experimentos e observações.” Adorável. Eu soava como se estivesse fazendo um teste para um audiobook do nosso texto.
“Com suas próprias palavras.”
Eu toquei a ponta da minha língua com meu lábio superior e tentei um sinônimo. “Ciência é uma investigação.” Soava como uma pergunta.
“Ciência é uma investigação,” o Treinador disse, esfregando suas mãos juntas. “Ciência exigi que nós nos tranformemos em espiões.”
Colocado desse jeito, ciência quase soa divertido. Mas eu estivera na aula do Treinador tempo suficiente para não ter muitas esperanças.
“Uma boa investigação precisa de prática,” ele continuou.
“Assim como sexo,” veio outro comentário do fundo da sala. Todos nós engolimos a risada enquanto o Treinador apontava um dedo acusador para o transgressor.
“Isso não será parte da lição de casa de hoje a noite.” O Treinador virou sua atenção de volta a mim. “Nora, você está se sentando ao lado da Vee desde o começo do ano.” Eu assenti, mas tinha um mau pressentimento sobre onde isso estava chegando. “Ambas estão no eZine da escola juntas.” Novamente eu assenti. “Aposto que conhecem bastante uma sobre a outra.”
Vee chutou minha perna debaixo da nossa mesa. Eu sabia o que ela estava pensando. Que ele não fazia ideia do quanto conhecíamos uma sobre a outra. E eu não quero só dizer os segredos que enterramos em nossos diários. Vee é minha des-gêmea. Ela tem olhos verdes, cabelos loiro-marta5, e alguns quilos acima de curvilínea. Eu sou uma morena de olhos esfumaçados com um volume de cabelo encaracolado que se mantém firme até mesmo contra a melhor chapinha. E sou só pernas, como um banquinho de bar. Mas há uma corda invisível que nos une; ambas juramos que esse laço começou bem antes do nascimento. Ambas juramos que continuará seguro pelo resto das nossas vidas.
5 Marta é a denominação comum dado aos mamíferos mustelídeos do gênero Martes. Esses animais têm uma pele muito apreciada.
O Treinador deu uma olhada na sala. “De fato, eu aposto que cada um de vocês conhece a pessoa sentando ao lado de você bem o bastante. Vocês escolheram os assentos que escolheram por uma razão, certo? Familiaridade. Que pena que os melhores detetives evitam familiaridade. Ela entorpece o instinto investigativo. E é por isso que, hoje, vamos criar um novo mapa de assentos.”
Eu abri minha boca para protestar, mas Vee chegou antes. “Mas que porcaria? É abril. Tipo, quase o final do ano6. Você não pode mexer nesse tipo de negócio agora.”
6 Nos EUA, o final do ano letivo é em junho/julho.
O Treinador deu um vestígio de sorriso. “Eu posso mexer nesse negócio até o último dia do semestre. E se você reprovar na minha aula, você estará de volta aqui no ano que vem, onde eu estarei mexendo nesse tipo de negócio novamente.”
Vee fez uma carranca para ele. Ela é famosa por aquela carranca. É um olhar que faz tudo, exceto sibilar audivelmente. Aparentemente imune a ele, o Treinador trouxe seu apito aos lábios, e captamos a ideia.
“Cada parceiro sentado no lado esquerdo da mesa – a esquerda de vocês – mova-se um assento para frente. Aqueles na fileira da frente – sim, incluindo você, Vee – movam-se para os fundos.”
Vee enfiou seu caderno dentro de sua mochila e arrebentou o zíper ao fechar. Eu mordi meu lábio e acenei um pequeno adeus. Então eu me virei ligeiramente, checando a sala atrás de mim. Eu conhecia os nomes de todos os meus colegas de sala... exceto um. O transferido. O Treinador nunca o chamou, e ele parecia preferir desse jeito. Ele se sentava desleixadamente uma mesa atrás, gelados olhos negros encarando à frente firmemente. Exatamente como sempre. Eu nem por um momento acreditava que ele simplesmente sentava lá, dia após dia, encarando o vazio. Ele estava pensando algo, mas o instinto me dizia que eu provavelmente não queria saber o que.
Ele assentou seu livro de biologia na mesa e deslizou na antiga cadeira da Vee.
Eu sorri. “Oi. Eu sou a Nora.”
Seus olhos negros me cortaram, e os cantos de sua boca inclinaram-se para cima. Meu coração errou uma batida e naquela pausa, um sentimento de triste escuridão pareceu deslizar como uma sombra sobre mim. Ele sumiu em um instante, mas eu ainda estava encarando-o. Seu sorriso não era amigável. Era um sorriso que soletrava encrenca. Como uma promessa.
Eu me foquei no quadro negro. A Barbie e o Ken encararam de volta com sorrisos estranhamente alegres.
O Treinador disse, “Reprodução humana pode ser um assunto pegajoso –”
“Uiii!” resmungou um coro de estudantes.
“É preciso um manuseamento maduro. E como toda ciência, a melhor abordagem é aprender a investigar. Pelo resto da aula, pratiquem essa técnica descobrindo o quanto puderem sobre seu novo parceiro. Amanhã, tragam em
escrito suas descobertas, e acreditem em mim, eu vou checar a autenticidade. Isso é biologia, não inglês, então nem pensem em ficcionalizar suas respostas. Eu quero ver interação e trabalho em equipe reais.” Havia um Ou então implícito.
Eu me sentei perfeitamente imóvel. A bola estava no campo dele – eu tinha sorrido, e olha como isso ajudou. Eu enruguei meu nariz, tentando descobrir a que ele cheirava. Não a cigarros. Algo mais profundo, mais asqueroso.
Charutos.
Eu encontrei o relógio na parede e bati meu lápis na hora da segunda mão. Eu plantei meu cotovelo na mesa e apoiei meu queixo no meu punho. Eu soprei um suspiro.
Ótimo. A esse ponto eu iria falhar.
Eu estava com meus olhos fixos a frente, mas eu ouvi o suave deslizar de sua caneta. Ele estava escrevendo, e eu queria saber o que. Dez minutos sentados juntos não o qualificava para fazer qualquer suposição sobre mim. Movendo um olhar lateral, eu vi que seu papel tinha várias linhas escritas e estava crescendo.
“O que você está escrevendo?” eu perguntei.
“E ela fala inglês,” ele disse enquanto rabiscava, cada pincelada de sua mão suave e preguiçosa ao mesmo tempo.
Eu me inclinei o mais perto dele que eu ousava, tentando ler o que mais ele tinha escrito, mas ele dobrou o papel ao meio, escondendo a lista.
“O que você escreveu?” Eu exigi.
Ele esticou a mão para o meu papel não-usado, deslizando-o pela mesa na direção dele. Ele o amassou em uma bola. Antes que eu pudesse protestar, ele o jogou numa lata de lixo ao lado da mesa do Treinador. O arremesso caiu dentro.
Eu encarei a lata de lixo por um momento, presa entre a descrença e a raiva. Então eu abri meu caderno em uma página em branco. “Qual é o seu nome?” Eu perguntei, o lápis pronto para escrever.
Eu olhei para cima a tempo de captar outro sorriso sombrio. Esse parecia me desafiar a arrancar qualquer coisa dele.
“Seu nome?” Eu repeti, esperando que fosse minha imaginação minha voz ter vacilado.
“Me chama de Patch. Sério. Me chama.”
Ele piscou quando disse isso, e eu estava bem certa de que ele estava me zoando. “O que você faz nas suas horas de ócio?” eu perguntei.
“Eu não tenho tempo livre.”
“Presumo que essa tarefa vale nota, então me faz um favor?”
Ele se reclinou em seu assento, dobrando seus braços atrás de sua cabeça. “Que tipo de favor?”
Eu tinha bastante certeza de que isso uma indireta, e eu lutei por um jeito de mudar de assunto.
“Tempo livre,” ele repetiu pensativamente. “Eu tiro fotos.”
Eu copiei Fotografia no meu papel.
“Eu não terminei,” ele disse. “Eu tenho uma bela coleção de uma colunista de eZine que acredita que há verdade em comer organicamente, que escreve poesia em segredo, e que estremece ao pensar em ter que escolher entre Stanford, Yale, e... qual é aquela grandona com H?”
Eu o encarei por um momento, balançada por ele ter acertado na mosca. Eu não tinha o pressentimento de que era um chute. Ele sabia. E eu queria saber como – agora.
“Mas você não acabará indo para nenhuma delas.”
“Eu não irei?” Eu perguntei sem pensar.
Ele prendeu seus dedos debaixo do assento da minha cadeira, me arrastando para mais perto dele. Não certa se deveria escapar e mostrar medo, ou fazer nada e fingir tédio, eu escolhi o último.
Ele disse, “Embora você prosperasse nas três escolas, você as desdenha por serem um cliché em realização. Julgar é sua terceira maior fraqueza.”
“E minha segunda?” Eu disse com bastante raiva. Quem era esse cara? Essa era algum tipo de piada perturbadora?
“Você não sabe como confiar. Eu retiro o que disse. Você confia – só que nas pessoas erradas.”
“E o meu primeiro?” Eu exigi.
“Você mantém a vida numa coleira curta.”
“O que isso quer dizer?”
“Você tem medo do que não consegue controlar.”
O cabelo na minha nuca ficou de pé, e a temperatura na sala pareceu esfriar. Normalmente eu teria ido diretamente para a mesa do Treinador e pedido um novo mapa de assentos. Mas eu me recusava a deixar Patch pensar que ele podia me intimidar ou assustar. Eu senti uma necessidade irracional de me defender e decidi bem ali e agora que eu não recuaria até que ele recuasse.
“Você dorme pelada?” ele perguntou.
Minha boca ameaçou cair, mas eu a segurei no lugar. “Você está longe de ser a pessoa a quem eu contaria.”
“Já foi a um psiquiatra?”
“Não,” eu menti. A verdade era que eu tinha consulta com o psicólogo da escola, Dr. Hendrickson. Não era por escolha, e não era algo que eu gostasse de falar sobre.
“Fez algo ilegal?”
“Não.” Ocasionalmente passar do limite de velocidade não contaria. Não com ele. “Por que você não me pergunta algo normal? Como... meu tipo favorito de música?”
“Eu não vou perguntar o que eu posso adivinhar.”
“Você não sabe o tipo de música que eu escuto.”
“Barroco. Com você, tudo é ordem, controle. Eu aposto que você toca... violoncelo?” Ele disse isso como se tivesse chutado do nada.
“Errado.” Outra mentira, mas essa enviou um arrepio pela minha pele que deixou meus dedos formigando. Quem era ele, realmente? Se ele sabia que eu tocava violoncelo, o que mais ele sabia?
“O que é isso?” Patch deu um tapinha com sua caneta no interior do meu pulso. Instintivamente eu recuei.
“Uma marca de nascença.”
“Parece uma cicatriz. Você é suicida, Nora?” Seus olhos se conectaram com os meus, e eu pude sentir ele rindo. “Pais casados ou divorciados?”
“Eu moro com a minha mãe.”
“Onde está o pai?”
“Meu pai morreu ano passado.”
“Como ele morreu?”
Eu hesitei. “Ele foi – assassinado. Esse é um território meio pessoal, se não se importa.”
Houve uma contagem de silêncio e a beirada dos olhos de Patch pareceu suavizar um pouco. “Isso deve ser duro.” Ele soava sério.
O sino tocou e Patch estava de pé, caminhando em direção a porta.
“Espera,” eu chamei. Ele não se virou. “Com licença!” Ele tinha passado pela porta. “Patch! Eu não peguei nada sobre você.”
Ele se virou e andou na minha direção. Tomando minha mão, ele rabiscou algo nela antes de eu a puxar.
Eu olhei para baixo para os sete números em tinta vermelha na minha palma e fechei a mão ao redor deles. Eu queria dizer a ele que de jeito nenhum seu telefone tocaria hoje a noite. Eu queria dizer a ele que era culpa dele por tomar todo o tempo me questionando. Eu queria um monte de coisas, mas eu só fiquei parada lá parecendo como se não soubesse abrir minha boca.
Por fim eu disse, “Estou ocupada hoje a noite.”
“Assim como eu.” Ele sorriu e se foi.
Eu fiquei pregada no lugar, digerindo o que tinha acabado de acontecer. Ele tinha comido todo o tempo me questionando de propósito? Para que eu falhasse? Ele achava que um relampejo de sorriso o redimiria? Sim, eu pensei. Sim, ele achava.
“Eu não vou ligar!” Eu gritei depois dele. “Não – nunca!”
“Você terminou a sua coluna para o prazo de amanhã?” Era a Vee. Ele apareceu ao meu lado, anotando no caderno que ela carregava para todo lugar. “Estou pensando em escrever a minha sobre a injustiça do mapa de assentos. Eu fiquei com uma garota que disse que tinha acabado um tratamento para piolho essa manhã.”
“Meu novo parceiro,” eu disse, apontando no corredor para as costas de Patch. Ele tinha um andar irritantemente confiante, do tipo que você acha combinado com camisetas desbotadas e um chapéu de caubói. Patch não usava nenhum dos dois. Ele era um garoto do tipo Levi’s-escura-jaqueta-escura-botas-escuras.
“O veterano transferido? Acho que ele não estudou o bastante da primeira vez. Ou da segunda.” Ela me deu um olhar astucioso. “Na terceira ele tem sorte.”
“Ele me dá arrepios. Ele conhecia a minha música. Sem qualquer dica, ele disse, ‘Barroco’.” Eu fiz uma péssima imitação de sua voz baixa.
“Chute de sorte?”
“Ele sabia.... outras coisas.”
“Como o quê?”
Eu soltei um suspiro. Ele sabia mais do que eu queria contemplar confortavelmente. “Tipo como me enlouquecer,” eu disse por fim. “Eu vou dizer ao Treinador que ele tem que nos trocar de volta.”
“Vai nessa. Eu podia ter um gancho para o meu próximo artigo no eZine. ‘Segunda-anista Defende-se.’ Melhor ainda, ‘Mapa de Assento Leva um Tapa na Cara.’ Hmm. Eu gostei.”
No final do dia, fui eu quem levou um tapa na cara. O Treinador recusou meu pedido para repensar o mapa de assentos. Parecia que eu estava presa com o Patch.
Por ora.
Coldwater, Maine
Dias atuais
Eu entrei na aula de biologia e meu queixo caiu. Misteriosamente aderido ao quadro-negro estava uma boneca Barbie, com Ken ao seu lado. Eles foram forçados a dar os braços e estavam nus, exceto por folhas artificiais colocadas em alguns lugares específicos. Rabiscado acima de suas cabeças em giz grosso rosa estava a convocação:
BEM VINDOS À REPRODUÇÃO HUMANA (SEXO)
Ao meu lado, Vee Sky disse, “É exatamente por isso que a escola proíbe câmeras de celular. Fotos disso no eZine seriam toda a evidência que eu precisaria para ir ao conselho da educação para remover biologia. E então teríamos essa hora para fazer algo produtivo – como receber monitoramento particular de veteranos gracinhas.”
“Ora, Vee,” eu disse, “Eu podia jurar que você estava esperando essa unidade o semestre todo.” Vee abaixou os cílios e sorriu maliciosamente. “Essa aula não vai me ensinar nada que eu já não saiba.”
“Vee? Tipo, virgem?”
“Não tão alto.” Ela piscou bem quando o sino tocou, mandando nós duas a nossos lugares, que eram lado a lado na nossa mesa compartilhada.
O Treinador McConaughy agarrou o apito balançando de uma corrente ao redor de seu pescoço e o assoprou. “Assentos, time!” O Treinador considerava ensinar biologia do segundo ano uma missão secundária de seu trabalho como treinador de basquete escolar, e todos sabíamos disso.
“Vocês podem não ter percebido que sexo é mais do que uma viagem de quinze minutos ao banco traseiro do carro. É ciência. E o que é ciência?”
“Uma chatice,” algum garoto no fundo da sala gritou.
“A única aula que eu estou reprovando,” disse outro.
Os olhos do Treinador examinaram a fileira da frente, parando em mim. “Nora?”
“O estudo de alguma coisa,” eu disse.
Ele andou até aqui e enfiou seu dedo indicador na mesa na minha frente. “O que mais?”
“Conhecimento ganho através de experimentos e observações.” Adorável. Eu soava como se estivesse fazendo um teste para um audiobook do nosso texto.
“Com suas próprias palavras.”
Eu toquei a ponta da minha língua com meu lábio superior e tentei um sinônimo. “Ciência é uma investigação.” Soava como uma pergunta.
“Ciência é uma investigação,” o Treinador disse, esfregando suas mãos juntas. “Ciência exigi que nós nos tranformemos em espiões.”
Colocado desse jeito, ciência quase soa divertido. Mas eu estivera na aula do Treinador tempo suficiente para não ter muitas esperanças.
“Uma boa investigação precisa de prática,” ele continuou.
“Assim como sexo,” veio outro comentário do fundo da sala. Todos nós engolimos a risada enquanto o Treinador apontava um dedo acusador para o transgressor.
“Isso não será parte da lição de casa de hoje a noite.” O Treinador virou sua atenção de volta a mim. “Nora, você está se sentando ao lado da Vee desde o começo do ano.” Eu assenti, mas tinha um mau pressentimento sobre onde isso estava chegando. “Ambas estão no eZine da escola juntas.” Novamente eu assenti. “Aposto que conhecem bastante uma sobre a outra.”
Vee chutou minha perna debaixo da nossa mesa. Eu sabia o que ela estava pensando. Que ele não fazia ideia do quanto conhecíamos uma sobre a outra. E eu não quero só dizer os segredos que enterramos em nossos diários. Vee é minha des-gêmea. Ela tem olhos verdes, cabelos loiro-marta5, e alguns quilos acima de curvilínea. Eu sou uma morena de olhos esfumaçados com um volume de cabelo encaracolado que se mantém firme até mesmo contra a melhor chapinha. E sou só pernas, como um banquinho de bar. Mas há uma corda invisível que nos une; ambas juramos que esse laço começou bem antes do nascimento. Ambas juramos que continuará seguro pelo resto das nossas vidas.
5 Marta é a denominação comum dado aos mamíferos mustelídeos do gênero Martes. Esses animais têm uma pele muito apreciada.
O Treinador deu uma olhada na sala. “De fato, eu aposto que cada um de vocês conhece a pessoa sentando ao lado de você bem o bastante. Vocês escolheram os assentos que escolheram por uma razão, certo? Familiaridade. Que pena que os melhores detetives evitam familiaridade. Ela entorpece o instinto investigativo. E é por isso que, hoje, vamos criar um novo mapa de assentos.”
Eu abri minha boca para protestar, mas Vee chegou antes. “Mas que porcaria? É abril. Tipo, quase o final do ano6. Você não pode mexer nesse tipo de negócio agora.”
6 Nos EUA, o final do ano letivo é em junho/julho.
O Treinador deu um vestígio de sorriso. “Eu posso mexer nesse negócio até o último dia do semestre. E se você reprovar na minha aula, você estará de volta aqui no ano que vem, onde eu estarei mexendo nesse tipo de negócio novamente.”
Vee fez uma carranca para ele. Ela é famosa por aquela carranca. É um olhar que faz tudo, exceto sibilar audivelmente. Aparentemente imune a ele, o Treinador trouxe seu apito aos lábios, e captamos a ideia.
“Cada parceiro sentado no lado esquerdo da mesa – a esquerda de vocês – mova-se um assento para frente. Aqueles na fileira da frente – sim, incluindo você, Vee – movam-se para os fundos.”
Vee enfiou seu caderno dentro de sua mochila e arrebentou o zíper ao fechar. Eu mordi meu lábio e acenei um pequeno adeus. Então eu me virei ligeiramente, checando a sala atrás de mim. Eu conhecia os nomes de todos os meus colegas de sala... exceto um. O transferido. O Treinador nunca o chamou, e ele parecia preferir desse jeito. Ele se sentava desleixadamente uma mesa atrás, gelados olhos negros encarando à frente firmemente. Exatamente como sempre. Eu nem por um momento acreditava que ele simplesmente sentava lá, dia após dia, encarando o vazio. Ele estava pensando algo, mas o instinto me dizia que eu provavelmente não queria saber o que.
Ele assentou seu livro de biologia na mesa e deslizou na antiga cadeira da Vee.
Eu sorri. “Oi. Eu sou a Nora.”
Seus olhos negros me cortaram, e os cantos de sua boca inclinaram-se para cima. Meu coração errou uma batida e naquela pausa, um sentimento de triste escuridão pareceu deslizar como uma sombra sobre mim. Ele sumiu em um instante, mas eu ainda estava encarando-o. Seu sorriso não era amigável. Era um sorriso que soletrava encrenca. Como uma promessa.
Eu me foquei no quadro negro. A Barbie e o Ken encararam de volta com sorrisos estranhamente alegres.
O Treinador disse, “Reprodução humana pode ser um assunto pegajoso –”
“Uiii!” resmungou um coro de estudantes.
“É preciso um manuseamento maduro. E como toda ciência, a melhor abordagem é aprender a investigar. Pelo resto da aula, pratiquem essa técnica descobrindo o quanto puderem sobre seu novo parceiro. Amanhã, tragam em
escrito suas descobertas, e acreditem em mim, eu vou checar a autenticidade. Isso é biologia, não inglês, então nem pensem em ficcionalizar suas respostas. Eu quero ver interação e trabalho em equipe reais.” Havia um Ou então implícito.
Eu me sentei perfeitamente imóvel. A bola estava no campo dele – eu tinha sorrido, e olha como isso ajudou. Eu enruguei meu nariz, tentando descobrir a que ele cheirava. Não a cigarros. Algo mais profundo, mais asqueroso.
Charutos.
Eu encontrei o relógio na parede e bati meu lápis na hora da segunda mão. Eu plantei meu cotovelo na mesa e apoiei meu queixo no meu punho. Eu soprei um suspiro.
Ótimo. A esse ponto eu iria falhar.
Eu estava com meus olhos fixos a frente, mas eu ouvi o suave deslizar de sua caneta. Ele estava escrevendo, e eu queria saber o que. Dez minutos sentados juntos não o qualificava para fazer qualquer suposição sobre mim. Movendo um olhar lateral, eu vi que seu papel tinha várias linhas escritas e estava crescendo.
“O que você está escrevendo?” eu perguntei.
“E ela fala inglês,” ele disse enquanto rabiscava, cada pincelada de sua mão suave e preguiçosa ao mesmo tempo.
Eu me inclinei o mais perto dele que eu ousava, tentando ler o que mais ele tinha escrito, mas ele dobrou o papel ao meio, escondendo a lista.
“O que você escreveu?” Eu exigi.
Ele esticou a mão para o meu papel não-usado, deslizando-o pela mesa na direção dele. Ele o amassou em uma bola. Antes que eu pudesse protestar, ele o jogou numa lata de lixo ao lado da mesa do Treinador. O arremesso caiu dentro.
Eu encarei a lata de lixo por um momento, presa entre a descrença e a raiva. Então eu abri meu caderno em uma página em branco. “Qual é o seu nome?” Eu perguntei, o lápis pronto para escrever.
Eu olhei para cima a tempo de captar outro sorriso sombrio. Esse parecia me desafiar a arrancar qualquer coisa dele.
“Seu nome?” Eu repeti, esperando que fosse minha imaginação minha voz ter vacilado.
“Me chama de Patch. Sério. Me chama.”
Ele piscou quando disse isso, e eu estava bem certa de que ele estava me zoando. “O que você faz nas suas horas de ócio?” eu perguntei.
“Eu não tenho tempo livre.”
“Presumo que essa tarefa vale nota, então me faz um favor?”
Ele se reclinou em seu assento, dobrando seus braços atrás de sua cabeça. “Que tipo de favor?”
Eu tinha bastante certeza de que isso uma indireta, e eu lutei por um jeito de mudar de assunto.
“Tempo livre,” ele repetiu pensativamente. “Eu tiro fotos.”
Eu copiei Fotografia no meu papel.
“Eu não terminei,” ele disse. “Eu tenho uma bela coleção de uma colunista de eZine que acredita que há verdade em comer organicamente, que escreve poesia em segredo, e que estremece ao pensar em ter que escolher entre Stanford, Yale, e... qual é aquela grandona com H?”
Eu o encarei por um momento, balançada por ele ter acertado na mosca. Eu não tinha o pressentimento de que era um chute. Ele sabia. E eu queria saber como – agora.
“Mas você não acabará indo para nenhuma delas.”
“Eu não irei?” Eu perguntei sem pensar.
Ele prendeu seus dedos debaixo do assento da minha cadeira, me arrastando para mais perto dele. Não certa se deveria escapar e mostrar medo, ou fazer nada e fingir tédio, eu escolhi o último.
Ele disse, “Embora você prosperasse nas três escolas, você as desdenha por serem um cliché em realização. Julgar é sua terceira maior fraqueza.”
“E minha segunda?” Eu disse com bastante raiva. Quem era esse cara? Essa era algum tipo de piada perturbadora?
“Você não sabe como confiar. Eu retiro o que disse. Você confia – só que nas pessoas erradas.”
“E o meu primeiro?” Eu exigi.
“Você mantém a vida numa coleira curta.”
“O que isso quer dizer?”
“Você tem medo do que não consegue controlar.”
O cabelo na minha nuca ficou de pé, e a temperatura na sala pareceu esfriar. Normalmente eu teria ido diretamente para a mesa do Treinador e pedido um novo mapa de assentos. Mas eu me recusava a deixar Patch pensar que ele podia me intimidar ou assustar. Eu senti uma necessidade irracional de me defender e decidi bem ali e agora que eu não recuaria até que ele recuasse.
“Você dorme pelada?” ele perguntou.
Minha boca ameaçou cair, mas eu a segurei no lugar. “Você está longe de ser a pessoa a quem eu contaria.”
“Já foi a um psiquiatra?”
“Não,” eu menti. A verdade era que eu tinha consulta com o psicólogo da escola, Dr. Hendrickson. Não era por escolha, e não era algo que eu gostasse de falar sobre.
“Fez algo ilegal?”
“Não.” Ocasionalmente passar do limite de velocidade não contaria. Não com ele. “Por que você não me pergunta algo normal? Como... meu tipo favorito de música?”
“Eu não vou perguntar o que eu posso adivinhar.”
“Você não sabe o tipo de música que eu escuto.”
“Barroco. Com você, tudo é ordem, controle. Eu aposto que você toca... violoncelo?” Ele disse isso como se tivesse chutado do nada.
“Errado.” Outra mentira, mas essa enviou um arrepio pela minha pele que deixou meus dedos formigando. Quem era ele, realmente? Se ele sabia que eu tocava violoncelo, o que mais ele sabia?
“O que é isso?” Patch deu um tapinha com sua caneta no interior do meu pulso. Instintivamente eu recuei.
“Uma marca de nascença.”
“Parece uma cicatriz. Você é suicida, Nora?” Seus olhos se conectaram com os meus, e eu pude sentir ele rindo. “Pais casados ou divorciados?”
“Eu moro com a minha mãe.”
“Onde está o pai?”
“Meu pai morreu ano passado.”
“Como ele morreu?”
Eu hesitei. “Ele foi – assassinado. Esse é um território meio pessoal, se não se importa.”
Houve uma contagem de silêncio e a beirada dos olhos de Patch pareceu suavizar um pouco. “Isso deve ser duro.” Ele soava sério.
O sino tocou e Patch estava de pé, caminhando em direção a porta.
“Espera,” eu chamei. Ele não se virou. “Com licença!” Ele tinha passado pela porta. “Patch! Eu não peguei nada sobre você.”
Ele se virou e andou na minha direção. Tomando minha mão, ele rabiscou algo nela antes de eu a puxar.
Eu olhei para baixo para os sete números em tinta vermelha na minha palma e fechei a mão ao redor deles. Eu queria dizer a ele que de jeito nenhum seu telefone tocaria hoje a noite. Eu queria dizer a ele que era culpa dele por tomar todo o tempo me questionando. Eu queria um monte de coisas, mas eu só fiquei parada lá parecendo como se não soubesse abrir minha boca.
Por fim eu disse, “Estou ocupada hoje a noite.”
“Assim como eu.” Ele sorriu e se foi.
Eu fiquei pregada no lugar, digerindo o que tinha acabado de acontecer. Ele tinha comido todo o tempo me questionando de propósito? Para que eu falhasse? Ele achava que um relampejo de sorriso o redimiria? Sim, eu pensei. Sim, ele achava.
“Eu não vou ligar!” Eu gritei depois dele. “Não – nunca!”
“Você terminou a sua coluna para o prazo de amanhã?” Era a Vee. Ele apareceu ao meu lado, anotando no caderno que ela carregava para todo lugar. “Estou pensando em escrever a minha sobre a injustiça do mapa de assentos. Eu fiquei com uma garota que disse que tinha acabado um tratamento para piolho essa manhã.”
“Meu novo parceiro,” eu disse, apontando no corredor para as costas de Patch. Ele tinha um andar irritantemente confiante, do tipo que você acha combinado com camisetas desbotadas e um chapéu de caubói. Patch não usava nenhum dos dois. Ele era um garoto do tipo Levi’s-escura-jaqueta-escura-botas-escuras.
“O veterano transferido? Acho que ele não estudou o bastante da primeira vez. Ou da segunda.” Ela me deu um olhar astucioso. “Na terceira ele tem sorte.”
“Ele me dá arrepios. Ele conhecia a minha música. Sem qualquer dica, ele disse, ‘Barroco’.” Eu fiz uma péssima imitação de sua voz baixa.
“Chute de sorte?”
“Ele sabia.... outras coisas.”
“Como o quê?”
Eu soltei um suspiro. Ele sabia mais do que eu queria contemplar confortavelmente. “Tipo como me enlouquecer,” eu disse por fim. “Eu vou dizer ao Treinador que ele tem que nos trocar de volta.”
“Vai nessa. Eu podia ter um gancho para o meu próximo artigo no eZine. ‘Segunda-anista Defende-se.’ Melhor ainda, ‘Mapa de Assento Leva um Tapa na Cara.’ Hmm. Eu gostei.”
No final do dia, fui eu quem levou um tapa na cara. O Treinador recusou meu pedido para repensar o mapa de assentos. Parecia que eu estava presa com o Patch.
Por ora.
Leia o Primeiro Capitulo de Sussurro Hush Hush.
Vale do Loire, França. Novembro de 1565
Chauncey estava com a filha de um fazendeiro nos bancos relvados do rio Loire quando a tempestade começou, e tendo deixado seu cavalo castrado perambulando na clareira, foi deixado com seus dois próprios pés para levarem-no de volta ao château. Ele arrancou uma fivela prateada de seu sapato, a colocou na palma da mão da garota, e a observou sair correndo, lama afundando em sua saia. Então ele colocou suas botas e começou o caminho para casa.
Chuva envolveu o campo escuro que cercava o Château de Langeais. Chauncey pisou sem dificuldade nas sepulturas e humus submersos do cemitério; mesmo na espessa névoa ele conseguia encontrar seu caminho para casa daqui e não temia se perder. Não havia névoa nenhuma hoje a noite, mas a escuridão e o ataque da chuva eram enganadores o bastante.
Havia movimento na extremidade da visão de Chauncey, e ele virou instantaneamente sua cabeça para esquerda. Ao primeiro olhar, o que parecia ser um grande anjo no topo de um monumento próximo se levantou inteiramente. Nem pedra nem mármore, o garoto tinha braços e pernas. Seu torso estava nu, seus pés descalços, e uma calça de camponês pendia baixa em sua cintura. Ele pulou do monumento, as pontas de seu cabelo preto pingando da chuva. Ele escorregava no seu rosto, que era escuro como o de um espanhol.
A mão de Chauncey arrastou-se para o punho de sua espada. “Quem está aí?”
A boca do garoto deu um vestígio de sorriso.
“Não brinque com o Duc2 de Langeais,” Chauncey avisou. “Eu pedi o seu nome. Dê-o.”
“Duc?” O garoto se inclinou contra um salgueiro retorcido. “Ou bastardo?”
Chauncey desembainhou sua espada. “Retire o que disse! Meu pai era o Duc de Langeais. Eu sou o Duc de Langeais agora,” ele acrescentou desajeitadamente, e se amaldiçoou por isso.
O garoto deu um chacoalhar preguiçoso de sua cabeça. “Seu pai não era o antigo Duc.”
Chauncey ferveu com o afrontoso insulto. “E o seu pai?” ele exigiu, estendendo sua espada. Ele ainda não conhecia todos os seus vassalos, mas ele estava aprendendo. Ele marcaria o nome da família desse garoto a ferro na memória. “Eu perguntarei mais uma vez,” ele disse em uma voz baixa, esfregando uma mão pelo seu rosto para afastar a chuva. “Quem é você?”
O garoto andou e empurrou de lado a espada. Ele de repente parecia mais velho do que Chauncey havia presumido, talvez até mesmo um ou dois anos mais velho do que Chauncey. “Um dos descendentes do Diabo,” ele respondeu.
Chauncey sentiu um aperto de medo em seu estômago. “Você é um lunático delirante,” ele disse entre os dentes. “Caia fora do meu caminho.”
O chão abaixo de Chauncey se inclinou. Explosões de dourado e vermelho estouraram atrás de seus olhos. Encurvado com suas unhas triturando suas coxas, ele olhou para o garoto, pestanejando e arfando, tentando achar sentido no que acontecia. Sua mente vacilava como se não fosse mais sua para comandar.
O garoto se agachou para nivelar seus olhos. “Escute cuidadosamente. Eu preciso de algo de você. Eu não irei embora até eu ter isso. Você entende?”
Cerrando seus dentes, Chauncey balançou sua cabeça para expressar sua descrença – seu desacato. Ele tentou cuspir no garoto, mas escorreu em seu queixo, sua língua recusando-se a obedecê-lo.
O garoto entrelaçou suas mãos ao redor das de Chauncey; o calor delas o queimou e ele soltou um grito.
“Eu preciso do seu juramento de lealdade,” o garoto disse. “Ajoelhe-se sobre um joelho e jure.”
Chauncey ordenou sua garganta a rir cruelmente, mas sua garganta constringiu e ele se afogou com o som. Seu joelho direito entortou como se tivesse sido chutado por trás, apesar de ninguém estar lá, e ele tropeçou para a frente na lama. Ele se curvou de lado e forçou vômito sem sucesso.
“Jure,” o garoto repetiu.
Calor fluiu no pescoço de Chauncey; precisou de toda a sua energia para curvar suas mãos em dois punhos fracos. Ele riu de si mesmo, mas não havia humor. Ele não fazia ideia de como, mas o garoto estava inflingindo a náusea e a fraqueza dentro dele. Ela não seria suspensa até que ele prestasse o juramento. Ele diria o que tivesse que dizer, mas ele jurou em seu coração que destruiria o garoto por essa humilhação.
“Lorde, eu me torno seu homem,” Chauncey disse venenosamente.
O garoto levantou Chauncey de pé. “Me encontre aqui no começo do mês hebreu de Cheshvan3. Durante as duas semanas entre a lua nova e a cheia, eu precisarei de seu serviço.”
3 Abreviação de Marcheshvan. É o oitavo mês do calendário hebraico, e geralmente cai entre outubro/novembro no calendário gregoriano.
4 Do hebraico, ‘aqueles que caíram’ (anjos).
“Uma... quinzena?” Toda a estrutura de Chauncey tremeu debaixo do peso de sua raiva. “Eu sou o Duc de Langeais!”
“Você é um Nephil,” o garoto disse em uma fatia de sorriso.
Chauncey tinha uma réplica profana na ponta da língua, mas ele a engoliu. Suas próximas palavras foram ditas com gelado veneno. “O que você disse?”
“Você pertence a raça bíblica dos Nephilim4. Seu pai verdadeiro era um anjo que caiu do céu. Você é metade mortal.” Os olhos escuros do garoto se levantaram, encontrando os de Chauncey. “Metade anjo caído.”
A voz do tutor de Chauncey foi trazida dos recessos de sua mente, lendo passagens da Bíblia, contando de uma raça depravada criada quando anjos lançados do céu se acasalaram com mulheres mortais. Uma raça apavorante e poderosa. Um calafrio que não era repulsa total arrastou-se por Chauncey. “Quem é você?”
O garoto se virou, afastando-se, e embora Chauncey quisesse ir atrás dele, ele não conseguia ordenar suas pernas a suportar seu peso. Ajoelhado ali, pestanejando através da chuva, ele viu duas cicatrizes grossas nas costas do torso nu do garoto. Elas se estreitavam para formar um V de ponta-cabeça.
“Você é um – caído?” ele chamou. “Suas asas foram arrancadas, não foram?”
O garoto – anjo – quem quer que ele fosse, não se virou. Chauncey não precisou da confirmação.
“O serviço que eu vou prover,” ele gritou. “Eu exigo saber o que é!”
O ar ressoou com a baixa risada do garoto.
Esperem brevemente o próximo capitulo
Chauncey estava com a filha de um fazendeiro nos bancos relvados do rio Loire quando a tempestade começou, e tendo deixado seu cavalo castrado perambulando na clareira, foi deixado com seus dois próprios pés para levarem-no de volta ao château. Ele arrancou uma fivela prateada de seu sapato, a colocou na palma da mão da garota, e a observou sair correndo, lama afundando em sua saia. Então ele colocou suas botas e começou o caminho para casa.
Chuva envolveu o campo escuro que cercava o Château de Langeais. Chauncey pisou sem dificuldade nas sepulturas e humus submersos do cemitério; mesmo na espessa névoa ele conseguia encontrar seu caminho para casa daqui e não temia se perder. Não havia névoa nenhuma hoje a noite, mas a escuridão e o ataque da chuva eram enganadores o bastante.
Havia movimento na extremidade da visão de Chauncey, e ele virou instantaneamente sua cabeça para esquerda. Ao primeiro olhar, o que parecia ser um grande anjo no topo de um monumento próximo se levantou inteiramente. Nem pedra nem mármore, o garoto tinha braços e pernas. Seu torso estava nu, seus pés descalços, e uma calça de camponês pendia baixa em sua cintura. Ele pulou do monumento, as pontas de seu cabelo preto pingando da chuva. Ele escorregava no seu rosto, que era escuro como o de um espanhol.
A mão de Chauncey arrastou-se para o punho de sua espada. “Quem está aí?”
A boca do garoto deu um vestígio de sorriso.
“Não brinque com o Duc2 de Langeais,” Chauncey avisou. “Eu pedi o seu nome. Dê-o.”
“Duc?” O garoto se inclinou contra um salgueiro retorcido. “Ou bastardo?”
Chauncey desembainhou sua espada. “Retire o que disse! Meu pai era o Duc de Langeais. Eu sou o Duc de Langeais agora,” ele acrescentou desajeitadamente, e se amaldiçoou por isso.
O garoto deu um chacoalhar preguiçoso de sua cabeça. “Seu pai não era o antigo Duc.”
Chauncey ferveu com o afrontoso insulto. “E o seu pai?” ele exigiu, estendendo sua espada. Ele ainda não conhecia todos os seus vassalos, mas ele estava aprendendo. Ele marcaria o nome da família desse garoto a ferro na memória. “Eu perguntarei mais uma vez,” ele disse em uma voz baixa, esfregando uma mão pelo seu rosto para afastar a chuva. “Quem é você?”
O garoto andou e empurrou de lado a espada. Ele de repente parecia mais velho do que Chauncey havia presumido, talvez até mesmo um ou dois anos mais velho do que Chauncey. “Um dos descendentes do Diabo,” ele respondeu.
Chauncey sentiu um aperto de medo em seu estômago. “Você é um lunático delirante,” ele disse entre os dentes. “Caia fora do meu caminho.”
O chão abaixo de Chauncey se inclinou. Explosões de dourado e vermelho estouraram atrás de seus olhos. Encurvado com suas unhas triturando suas coxas, ele olhou para o garoto, pestanejando e arfando, tentando achar sentido no que acontecia. Sua mente vacilava como se não fosse mais sua para comandar.
O garoto se agachou para nivelar seus olhos. “Escute cuidadosamente. Eu preciso de algo de você. Eu não irei embora até eu ter isso. Você entende?”
Cerrando seus dentes, Chauncey balançou sua cabeça para expressar sua descrença – seu desacato. Ele tentou cuspir no garoto, mas escorreu em seu queixo, sua língua recusando-se a obedecê-lo.
O garoto entrelaçou suas mãos ao redor das de Chauncey; o calor delas o queimou e ele soltou um grito.
“Eu preciso do seu juramento de lealdade,” o garoto disse. “Ajoelhe-se sobre um joelho e jure.”
Chauncey ordenou sua garganta a rir cruelmente, mas sua garganta constringiu e ele se afogou com o som. Seu joelho direito entortou como se tivesse sido chutado por trás, apesar de ninguém estar lá, e ele tropeçou para a frente na lama. Ele se curvou de lado e forçou vômito sem sucesso.
“Jure,” o garoto repetiu.
Calor fluiu no pescoço de Chauncey; precisou de toda a sua energia para curvar suas mãos em dois punhos fracos. Ele riu de si mesmo, mas não havia humor. Ele não fazia ideia de como, mas o garoto estava inflingindo a náusea e a fraqueza dentro dele. Ela não seria suspensa até que ele prestasse o juramento. Ele diria o que tivesse que dizer, mas ele jurou em seu coração que destruiria o garoto por essa humilhação.
“Lorde, eu me torno seu homem,” Chauncey disse venenosamente.
O garoto levantou Chauncey de pé. “Me encontre aqui no começo do mês hebreu de Cheshvan3. Durante as duas semanas entre a lua nova e a cheia, eu precisarei de seu serviço.”
3 Abreviação de Marcheshvan. É o oitavo mês do calendário hebraico, e geralmente cai entre outubro/novembro no calendário gregoriano.
4 Do hebraico, ‘aqueles que caíram’ (anjos).
“Uma... quinzena?” Toda a estrutura de Chauncey tremeu debaixo do peso de sua raiva. “Eu sou o Duc de Langeais!”
“Você é um Nephil,” o garoto disse em uma fatia de sorriso.
Chauncey tinha uma réplica profana na ponta da língua, mas ele a engoliu. Suas próximas palavras foram ditas com gelado veneno. “O que você disse?”
“Você pertence a raça bíblica dos Nephilim4. Seu pai verdadeiro era um anjo que caiu do céu. Você é metade mortal.” Os olhos escuros do garoto se levantaram, encontrando os de Chauncey. “Metade anjo caído.”
A voz do tutor de Chauncey foi trazida dos recessos de sua mente, lendo passagens da Bíblia, contando de uma raça depravada criada quando anjos lançados do céu se acasalaram com mulheres mortais. Uma raça apavorante e poderosa. Um calafrio que não era repulsa total arrastou-se por Chauncey. “Quem é você?”
O garoto se virou, afastando-se, e embora Chauncey quisesse ir atrás dele, ele não conseguia ordenar suas pernas a suportar seu peso. Ajoelhado ali, pestanejando através da chuva, ele viu duas cicatrizes grossas nas costas do torso nu do garoto. Elas se estreitavam para formar um V de ponta-cabeça.
“Você é um – caído?” ele chamou. “Suas asas foram arrancadas, não foram?”
O garoto – anjo – quem quer que ele fosse, não se virou. Chauncey não precisou da confirmação.
“O serviço que eu vou prover,” ele gritou. “Eu exigo saber o que é!”
O ar ressoou com a baixa risada do garoto.
Esperem brevemente o próximo capitulo
Contra Capa Sussurro Hush Hush

Os olhos de Patch eram como orbitas negras.Absolviam tudo e não devolviam nada.Não que ey quissesse saber mais sobre ele.Se não gostei do que vi por fora, duvidava que fosse gostar do que se espreitava la no fundo.
O único porém é que isso não era bem a verdade.Eu adorei o que vi.Músculos longos e esguios nos braços, ombros largos e relaxados, e um sorriso que era meio debochado, meio sedutor.Estava difícil convercer a mim mesma de que deveria ignorar algo que já começava a parecer irresistível.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Lançamento Internacional de Crescendo !

É isso gente hoje nos EUA estreia Crescendo ( 19/10) , mais aqui no Brasil tem previsão pra chegar nas férias de Janeiro/Fevereiro ou talvez para o Natal !
Mais não está nada confirmado , estou louca para ler crescendo.
Bom , na internet já tem vários disponibilizando o primeiro capítulo de Crescendo , então corram para o Google!
Confira o resto dos Play List's de Sussurro Hush Hush
8- LoveFool - The Cardigans
9- Voices Carry - Til Tuesday
10 - Touble is a Friend - Lenka
11-Angels - Within Templation
Para ver o resto da Lista procure no nosso blog !
9- Voices Carry - Til Tuesday
10 - Touble is a Friend - Lenka
11-Angels - Within Templation
Para ver o resto da Lista procure no nosso blog !
Sai mais PlayList' de Sussurro
4 - Roam - B52s
5 - How Soon is Now - The Smiths
6 - Just Live Heaven - Cure, The
7- Tonight She Comes
5 - How Soon is Now - The Smiths
6 - Just Live Heaven - Cure, The
7- Tonight She Comes
Lançamento de “Crescendo” é adiantado!
O segundo volume da série “Hush, Hush” será lançado uma semana antes do previsto. Segue abaixo a tradução do que foi postado no site Fallen Archangel:
Estamos extasiados em anunciar que a Simon&Schuter adiantou a data da venda de Hush Hush (versão brochura) e CRESCENDO!!! E estamos oferecendo uma espiada EXCLUSIVA em Crescendo, que agora vai ser lançado em 19 de Outubro! Clique aqui para ler (em inglês) o Prólogo e o Capítulo 1. Queremos ouvir sua opinião após a leitura!! Visite o blog e o fórum para postar seus comentários!!
Enquanto isso, aqui no Brasil, Sussurro, o primeiro volume da série será lançado dia 1 de junho, pela Intrínseca.
Estamos extasiados em anunciar que a Simon&Schuter adiantou a data da venda de Hush Hush (versão brochura) e CRESCENDO!!! E estamos oferecendo uma espiada EXCLUSIVA em Crescendo, que agora vai ser lançado em 19 de Outubro! Clique aqui para ler (em inglês) o Prólogo e o Capítulo 1. Queremos ouvir sua opinião após a leitura!! Visite o blog e o fórum para postar seus comentários!!
Enquanto isso, aqui no Brasil, Sussurro, o primeiro volume da série será lançado dia 1 de junho, pela Intrínseca.
Sai os tres primeiros Play List's de Sussurro
1- Where is my Mind - Pixies
2-Beast Of Burden - Rolling Stones
3- Foll in the Rain - Led Zeppelin
Ouçam e vejam se não tem tudo a ver com o livroo !
2-Beast Of Burden - Rolling Stones
3- Foll in the Rain - Led Zeppelin
Ouçam e vejam se não tem tudo a ver com o livroo !
O MUNDO
A história por trás HUSH HUSH
O dia era 03 de fevereiro de 2003, eo evento foi meu vigésimo quarto aniversário. Após um longo debate entre aulas de culinária japonesa e uma aula de redação de oito semanas, meu marido resolveu me dar a classe a escrever para o meu presente de aniversário. Eu tenho que admitir, eu estava esperando para aulas de culinária japonesa porque: A) Eu dei um curso de Inglês na faculdade e meu professor ameaçou deixar-me, e B) eu não acho que tinha uma história para contar. Mas, ao mesmo tempo, senti um empate assustador e quase magnética para a classe. Quando eu tinha oito anos, eu assisti Romancing the Stone, pela primeira vez e imediatamente anunciou a minha mãe que eu iria crescer e se tornar um escritor. Concedido, eu pensei que todos os escritores caçadas pelo tesouro na Colômbia e se apaixonou por uma sexy e misterioso estranho também conhecido como Michael Douglas.
No outono seguinte, eu comecei um novo livro sobre uma menina de dezesseis anos chamada Ellie Fairchild (que mais tarde se tornaria Nora Grey), a sua traição e melhor amigo de manipulação, Vee Sky, e parceiro de Ellie garoto sexy ruim bio, Patch ( que tinha um grande segredo que ele tinha vindo a manter).
Pensando que eu ia escrever o livro e descobrir o grande segredo Patch, mais tarde, eu terminei um rascunho de uma questão de semanas. Eu não estava muito feliz com 99 por cento da parcela, e Vee como um melhor amigo traidor não estava funcionando para mim. Com a falta de idéias viáveis para corrigir a história, decidi encerrar este assunto. Poucos meses depois, eu puxei a história para fora e tentou novamente. Eu mantive os três primeiros capítulos, mas desistiu de tudo para além desse ponto.
Após um breve hiato, eu fui batido com um enorme desejo de retirar o livro e tente novamente. Mas desta vez algo estava diferente, muito diferente. Eu sabia segredo Patch. Ele ainda era o menino final ruim ... mas agora eu sabia que não tinha sido sempre o caso. Em um ponto há muito tempo, ele foi honesto, e algo tinha causado a ele para mudar seus caminhos. Como eu pensei sobre a sua progressão de bom para ruim, eu não poderia abalar a imagem da queda. Depois disso, tudo se encaixou. Eu sabia Patch era um anjo caído. Essa constatação abriu infinitas possibilidades - eu poderia fazê-lo, literalmente, qualquer coisa que eu queria. E eu fiz exatamente isso.
Eu espero que você goste.
Becca
Crescendo
Nora deveria saber que sua vida estava longe de ser perfeita. Apesar de começar uma relação com seu anjo da guarda, Patch (quem, título à parte, pode ser descrito como qualquer coisa, menos angelical), e sobreviver a um atentado a sua vida, as coisas não parecem melhorar. Patch está começando a se afastar e Nora não consegue descobrir se é para o seu próprio bem ou se o seu interesse voltou-se para sua arqui-inimiga, Marcie Millar. Sem contar que Nora é assombrada por imagens de seu pai e ela fica obcecada querendo descobrir o que realmente aconteceu com ele naquela noite em que ele partiu para Portland e nunca voltou para casa.
Quanto mais Nora se aprofunda no mistério da morte de seu pai, mais ela começa a se perguntar se sua ascendência nefilim tem algo a ver com isso, assim como o por quê de ela estar em perigo com mais freqüência do que as garotas normais. Já que Patch não está respondendo suas perguntas e parece estar atrapalhando, ela tem que começar a procurar as respostas por si só. Confiar demais no fato de que ela tem um anjo da guarda põe Nora em perigo de novo e de novo. Mas ela pode mesmo contar com Patch ou ele está escondendo segredos mais obscuros do que ela pode imaginar?
"SUSSURRO" - Hush, Hush (Becca Fitzpatrick)

Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas os lançou ao inferno, e os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo.
(II S.Pedro 2:4)
Em uma alusão à grande batalha dos céus, onde o grande dragão do mal, sedutor de todo o mundo, foi expulso e atirado sobre a terra, e com ele, os seus anjos, "Sussurro" abarca elementos excitantes.
Uma história repleta de mistérios, suspense, e traição, onde o medo ofusca a realidade, a cobiça desvirtua os fracos, e a paixão leva à redenção.
****
1565 - Vale de loire, França:
Uma tempestade se aproximava. Enquanto Chauncey atravessava o cemitério, que ficava no caminho de seu castelo, um movimento chamou sua atenção. O que a primeira vista parecera uma estátua sobre uma sepultura ergueu-se majestosamente. O peito estava despido, os pés descalços, e gotas de chuva desciam por seu rosto. A boca do jovem esboçou um sorriso sombrio.
- Quem está aí?
- Sou da prole do demônio - respondeu.
Chaunsey sentiu uma onda de pavor, e para coroar as palavras do rapaz o chão cedeu sob seus pés. Chamas douradas e vermelhas apareciam diante de seus olhos.
- Escutai com atenção. Não partirei até conseguir o que quero. Preciso de vosso juramento de fidelidade.
O calor queimava a pele de Chauncey. Ele sabia que não conseguiria escapar, diria o que precisava dizer.
- Senhor, torno-me vosso servo.
Dias de hoje - Coldwater, Maine:
O que poderia ser um dia normal se tornou uma prova de paciência. Ensinar biologia para técnico McConaughy era apenas um bico, mas naquele dia ele resolveu inovar. Durante a aula de educação sexual, teve a brilhante idéia de reorganizar os lugares. Vee, que sempre foi a companheira inseparável de Nora Grey, foi sentar-se com outro colega.
Nora já tinha visto o rapaz que veio sentar-se ao seu lado, era o aluno novo, mas ela nem sabia o seu nome. Seus olhos negros a penetraram, seu coração quase parou e um sentimento sinistro a invadiu. Seu nome era Patch, e ele não foi muito amistoso durante a aula.
Porém, por mais que tentasse, Nora não conseguia tirá-lo da cabeça. Sua presença a amedrontava, todos os seus sentidos davam sinal de alerta, perigo. Mas a presença dele se impunha em sua mente.
Começou a desconfiar que ele a estava seguindo, onde quer que fosse acabava encontrando Patch. Ele estava em toda parte.
O perigo a rondava, percebeu que após conhecer Pach estranhos acontecimentos começaram a invadir sua vida. Se sentia constantemente vigiada, estava confusa e assustada. Por mais que tentasse fugir, não conseguia se afastar daquele rapaz de aparência maligna e sedutora.
Sua apreensão se tornou insuportável, e Nora resolveu saber um pouco mais sobre Patch. Queria respostas, e as conseguiria a qualquer custo.
Mas a verdade é mais aterrorizante do que ela poderia imaginar. Nora terá que lidar com a torrente de emoções que a envolvem, precisará de muita força e coragem para enfrentar a batalha que se aproxima.
Ela se encontra no centro da disputa entre o bem e o mal, seres imortais a cercam, e ela deverá se decidir de que lado ficará.
E sua decisão poderá custar sua vida.
A motivação de Patch, ao se aproximar de nora, é extremamente egoísta. Mas isso não é de se estranhar, afinal, ele é um anjo caído. Ele quer prazer, sentir e ter tudo que o mundo dos humanos pode oferecer. Ele também terá que se decidir se continuará na escuridão, ou se buscará a redenção.
****
Sussurro, é o primeiro livro da série Hush Hush da autora Becca Fitzpatrick. O mote do livro parece ser complexo, mas a autora conseguiu deixa-lo atraente e sedutor. O prólogo é instigante, deixando o leitor ainda mais ansioso pelo que virá.
A narrativa de Becca é muito cativante, a leitura é fácil e flui rapidamente. Os personagens do livro são bem caracterizados, principalmente o lado psicológico e sentimental.
Nora é uma garota centrada, estudiosa, e nunca perde o foco. Ela está passando por um momento confuso, incapaz de confiar nas pessoas, ela vive em conflito e com medo do desconhecido. Apesar de seus instintos a alertarem para tomar cuidado, Nora, frequentemente age por impulso e se coloca em perigo. Muitos de seus problemas foram causados por sua incapacidade de pensar com clareza. Totalmente sem juízo.
A atração por Patch a deixou cega e estúpida. Mas até eu ficaria burra com um homem daquele me chamando de anjo. No início eu não senti muita simpatia por Nora, sempre pensando o pior de todos, uma chata. Mas no desenrolar da história ela se redime, percebemos o quanto seus sentidos estavam certos e acabamos simpatizando com ela. Veja bem..."simpatizando". Porque, não há personagem mais sexy do que Patch.
Subitamente, ele me levantou e me sentou no balcão... Lançou para mim um sorriso convidativo e sombrio...Ele abriu as mãos sobre o balcão bem na altura dos meus quadris. Curvando a cabeça para um lado, ele se aproximou. Seu cheiro me fazia lembrar terra úmida e escura e me dominava.
- Você precisa ir - suspirei - com toda certeza, precisa ir.
-Para cá?- A boca dele estava no meu ombro - Ou para cá? - Dirigiu-se então para o meu pescoço. P.88
Patch é de arrasar corações. Suas frases de duplo sentido me provocaram suspiros. Olhos profundamente negros, pele morena, ombros largos, além de um sorriso debochado e sombrio. Ele é daqueles que provoca medo e insegurança, sabemos que precisamos correr para bem longe, mas quando percebemos, estamos totalmente hipnotizadas e dependente de seu olhar maligno. Eu sou do contra mesmo, sempre torço para o vilão, e amo os bonitinhos...mas ordinários.
Nora e Patch experimentam uma paixão distorcida, cercada de sentimentos sombrios e angustiantes, mas a atração entre eles é irresistível.
Não posso deixar de falar da melhor amiga e confidente de Nora. Vee, é uma garota corpulenta, de proporções avantajadas, mas ela se acha gostosa e sexy. A garota é uma figura, cheia de idéias mirabolantes, e só entra em confusão. Ela não precisa de uma amiga, e sim, de um guarda-costas. A menina é um perigo.
Há também dois rapazes que se envolvem com as meninas. Jules e Eliote são aparentemente adolescentes comuns, pretendentes que acabam se mostram interessados demais, e que escondem suas verdadeiras intenções.
A autora escreveu uma história envolvente, que mostra uma luta interior entre o bem e o mal. Eu fiquei fascinada com o tema do livro, só o achei curto demais. Não imagino o que será abordado no próximo livro, já que o desfecho revelou todos os mistérios. Não há um gancho para continuação, mas confio na criatividade da autora.
"Sussurro" é um estímulo à imaginação. Leiam, porque vocês não vão se arrepender.
Sussurro terá um terceiro livro?
Becca Fitzpatrick postou recentemente em seu blog que a série Hush, Hush terá um terceiro livro:
Estou muito animada por finalmente poder responder a isso! Como vocês devem ter notado, tenho discretamente evitado essa pergunta em todo lugar, porque por um bom tempo eu não tinha uma resposta. Em maio, eu ainda estava escrevendo CRESCENDO, e não sabia muito bem como o livro terminaria e se seria necessário escrever mais sobre a história de Patch e Nora. E, esse tempo todo, minha editora americana estava em licença-maternidade. Depois, tudo começou a acontecer depressa. Terminei CRESCENDO, e o fim do livro me deixou completamente atordoada. Eu não esperava tamanha reviravolta, mas acabei colocando-a ali, e, puxa, como gostei do resultado! (Sei que é injusto comentar sobre o livro, já que vocês ainda não leram, então vou parar, há!) As últimas páginas de CRESCENDO são bem dramáticas e deixam abertas diversas possibilidades para a continuação da história. Quando digitei “Fim”, já sabia que continuar seria minha decisão.
No último verão tive uma longa conversa com minha agente, na qual contei que havia escrito um argumento audacioso para um terceiro livro da série e queria que ela o apresentasse à minha editora. Fiquei tão nervosa quanto na ocasião da avaliação de Sussurro, esperando uma resposta e com receio de que ela detestasse o argumento… mas… ela adorou. Em agosto, então, comecei a escrever TEMPEST, o terceiro livro da série HUSH, HUSH. Não posso contar muito sobre a história ainda, já que ainda estou no primeiro terço do primeiro rascunho, mas digo que está caminhando para ter um pouco de tudo o que eu amo: reviravoltas, muito suspense, um tanto de terror e, principalmente, algumas cenas bastante elétricas entre Patch e Nora.
Para esclarecer perguntas futuras que já imagino surgindo: não sei se esse será o último livro da série. A esta altura, é difícil afirmar. Tenho uma boa ideia de como TEMPEST deverá terminar, mas nada é certo até que, bem, esteja certo. Então, por ora, tudo o que estou afirmando é que esse será o terceiro livro. Também, até agora, não sei qual será o outro livro contratado na negociação. [O contrato que a editora norte-americana negociou com a agente de Becca prevê, além de TEMPEST, a publicação de um segundo título]. Não comecei a escrevê-lo, muito menos decidi o que vai ser. Mas posso adiantar que será um romance young adult, porque é isso o que eu faço.
Espero que vocês estejam animados – eu estou felicíssima por voltar a escrever, principalmente sobre Patch e Nora.
— Becca
Estou muito animada por finalmente poder responder a isso! Como vocês devem ter notado, tenho discretamente evitado essa pergunta em todo lugar, porque por um bom tempo eu não tinha uma resposta. Em maio, eu ainda estava escrevendo CRESCENDO, e não sabia muito bem como o livro terminaria e se seria necessário escrever mais sobre a história de Patch e Nora. E, esse tempo todo, minha editora americana estava em licença-maternidade. Depois, tudo começou a acontecer depressa. Terminei CRESCENDO, e o fim do livro me deixou completamente atordoada. Eu não esperava tamanha reviravolta, mas acabei colocando-a ali, e, puxa, como gostei do resultado! (Sei que é injusto comentar sobre o livro, já que vocês ainda não leram, então vou parar, há!) As últimas páginas de CRESCENDO são bem dramáticas e deixam abertas diversas possibilidades para a continuação da história. Quando digitei “Fim”, já sabia que continuar seria minha decisão.
No último verão tive uma longa conversa com minha agente, na qual contei que havia escrito um argumento audacioso para um terceiro livro da série e queria que ela o apresentasse à minha editora. Fiquei tão nervosa quanto na ocasião da avaliação de Sussurro, esperando uma resposta e com receio de que ela detestasse o argumento… mas… ela adorou. Em agosto, então, comecei a escrever TEMPEST, o terceiro livro da série HUSH, HUSH. Não posso contar muito sobre a história ainda, já que ainda estou no primeiro terço do primeiro rascunho, mas digo que está caminhando para ter um pouco de tudo o que eu amo: reviravoltas, muito suspense, um tanto de terror e, principalmente, algumas cenas bastante elétricas entre Patch e Nora.
Para esclarecer perguntas futuras que já imagino surgindo: não sei se esse será o último livro da série. A esta altura, é difícil afirmar. Tenho uma boa ideia de como TEMPEST deverá terminar, mas nada é certo até que, bem, esteja certo. Então, por ora, tudo o que estou afirmando é que esse será o terceiro livro. Também, até agora, não sei qual será o outro livro contratado na negociação. [O contrato que a editora norte-americana negociou com a agente de Becca prevê, além de TEMPEST, a publicação de um segundo título]. Não comecei a escrevê-lo, muito menos decidi o que vai ser. Mas posso adiantar que será um romance young adult, porque é isso o que eu faço.
Espero que vocês estejam animados – eu estou felicíssima por voltar a escrever, principalmente sobre Patch e Nora.
— Becca
As Boas Vindas da Becca!
Estamos no ar e Sussurro está nas livrarias!
Enfim, terminou a espera: o primeiro livro da série Hush, Hush está nas ruas!
Corra , já e pegue o seu Sussurro !
Corra , já e pegue o seu Sussurro !
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